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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Linguagem e Estilo

No âmbito da disciplina de Português, foi nos proposto a elaboração de um trabalho sobre a obra Memorial do Convento. De entre os temas sob os quais nos foram apresentados, a nossa opção incidiu sob Linguagem e estilo em Memorial do Convento.

clip_image002O Memorial do convento é um romance, uma história de amor, a de Baltasar e Blimunda. Apresenta um facto histórico, construção do Convento de Mafra, e fala de um invento, a máquina voadora.

A escrita de José Saramago é caracterizada por um estilo distinto, próprio e irreverente começando de pela falta de numeração dos capítulos, separados apenas por um espaço em branco. Apresenta também algumas dificuldades de compreensão, entendido que, se torna complicado compreender a que personagens pertencem as diferentes falas, dado que estas são apenas separadas por vírgulas, sendo a o início de cada fala marcado pelo uso de letra maiúscula, em vez de serem utilizados aspas e travessões. Além disso, as falas são frequentemente interrompidas por comentários do narrador.

Ao longo do trabalho serão descritos a linguagem e o estilo utilizados por José Saramago em Memorial do Convento e os seus aspectos próprios, como os recursos estilísticos, registo de língua, vocabulário, entre outros

Este romance está repleto de recursos estilísticos, que o autor usou para enriquecer o seu discurso.

Ao longo do trabalho é possível verificar um estilo e uma linguagem que se desenvolve fora dos modelos convencionais. Inicialmente, a leitura da obra pode parecer complicada, mas, com a continuação, visa tornar-se mais simples.

Saramago, com a sua escrita, consegue criar um ritmo de escrita próximo da poesia, conseguindo associar diferentes figuras de estilo, produzindo uma nova forma de utilizar a pontuação, recorrendo a marcas características do discurso oral, construindo efeitos irónicos, sarcásticos e humorísticos e entrelaçando o seu discurso com outros discursos literários.

Podemos ainda dizer que a ironia, é o recurso privilegiado e que apresenta uma relevante importância no âmbito da crítica social, política e religiosa. Por último e não menos importante é de destacar a marca de estilo do autor, a peculiar forma de utilizar a pontuação.

“O autor , na linha da inovação e no caminho da subversão, consegue criar um ritmo de escrita que lembra a poesia, conjugando enumeração, comparação e metáfora, introduzindo aforismos, provérbios e ditados, recriando o uso da pontuação, usando marcas do discurso oral, construindo efeitos irónicos e humorísticos e entrelaçando o seu discurso com outros discursos literários (como o de Camões, padre António Vieira, Fernando Pessoa e outros) e jogos de conceitos típicos do Barroco.”

Adaptado de: http://www.ipv.pt/millenium/pers12_sar.htm

A primeira impressão que se tem ao ler um texto de Saramago é que o seu estilo, a sua linguagem brotam de uma forma intempestiva, subvertendo as regras tradicionais. A linguagem de Saramago reinventa a escrita, combinando características do discurso literário com o discurso oral, construindo uma narrativa marcada por uma cumplicidade, uma espécie de «amena cavaqueira» entre o narrador e o narratário.

Nível/Níveis de Língua

Não usamos uniformemente a língua, antes a adaptamos às circunstâncias e às pessoas com quem queremos comunicar. Assim a utilização da língua pelos diferentes falantes depende de vários factores: geográficos, etários, culturais, socioeconómicos, profissionais, situacionais entre muitos outros.

No Memorial do Convento existem diversas personagens que formam dois grupos opostos: A aristocracia e o alto clero representam o grupo do poder, enquanto o povo e os oprimidos representam o grupo do contrapoder. Apesar disto podemos constatar, até nos dias de hoje, que um registo mais popular não é exclusivo deste sector da sociedade.

Ao longo da obra podemos considerar três diferentes níveis de língua interpretados pelas personagens:

– Popular - A língua popular é muito simples, sem palavras eruditas e desvia-se da norma, quer na fala, quer na escrita. As características da língua popular variam com as regiões do país (Regionalismos) e com os diferentes tipos sociais (Gírias e Calão).

· Regionalismos ou provincianismos

São registos de língua próprios da população que habita as aldeias mais afastadas dos centros urbanos, distinguindo-se da língua da cidade pelo léxico, pronúncia, sintaxe e até pela semântica (certas palavras têm significado diferente do das populações citadinas).

· Gírias

São linguagem própria de certos grupos sociais, de certas profissões (pedreiros, peixeiras, pescadores, militares, estudantes, etc.) que usam um vocabulário próprio, geralmente com a finalidade de não serem compreendidos por indivíduos estranhos ao seu grupo. Dentro das gírias podem incluir-se o calão, um linguajar considerado grosseiro, próprio dos rapazes vadios, ciganos, salteadores, contrabandistas, etc. (originária de extractos sociais marginalizados, de ambientes miseráveis, onde a acção educativa dificilmente penetra).

Exemplo: "Queres tu dizer na tua que a merda é dinheiro, Não, majestade, é o dinheiro que é merda";

– Familiar – É uma língua simples, quer no vocabulário, quer na elaboração sintáctica, não distando muito da língua padrão. O tom coloquial da língua familiar dá-nos a impressão de que o emissor é nosso conhecido, aproximando-se da linguagem oralizante. As crónicas jornalísticas, pelo seu tom de conversa despreocupada, e as cartas, pela sua simplicidade e tom coloquial, reflectem quase sempre este nível de língua.

Exemplo: "correram o reino de ponta a ponta e não os apanharam";

– Cuidada – A língua que encontramos nos discursos parlamentares, nas conferências, nos ensaios, nos artigos de critica literária, etc., é, geralmente, língua cuidada.
Caracteriza-se por um vocabulário mais seleccionado, menos usual, e por construções sintácticas de influências clássicas.

Exemplo: "Tirando as expressões enfáticas esta mesma ordem já fora dada antes (...)".

Pontuação

A escrita de Saramago lembra, em parte, o estilo engenhoso do Barroco pois os ornamentos retóricos têm a função de captar, por meio do deleite, a atenção do leitor. Assim uma das características mais notórias de José Saramago é a utilização peculiar da pontuação.

  • Principal marca: nas passagens do discurso directo:
      • Eliminação do travessão e dos dois pontos;
      • A substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de pontuação pela vírgula;
      • O início de cada fala apenas é assinalado pela maiúscula.

Exemplo:

"Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã, Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo."

Recursos Estilisticos

Memorial do Convento está repleto de figuras de estilo, é um modo de enriquecer o seu discurso.

Ao longo desta obra poderemos encontrar vários exemplos de figuras de estilo, que enumeremos de seguida:

  • Adjectivação Expressiva
    • “a tripa empedernida”
    • “lama aguada e pegajosa”
  • Adjectivação múltipla
    • “aqui vou blasfema, herética, temerária, amordaçada”.
  • Dupla Adjectivação
    • “mãozinha suada e fria”
    • A boca (…) pequena e espremida”
    • “correm águas abundantes e dulcíssimas para o futuro pomar e horta…”
  • Polissíndeto:
    • “Isto que aqui vês são as velhas que servem para cortar o vento e que se movem segundo as necessidades, e aqui é o leme com que se dirigirá a barca […] e este é o corpo do navio dos ares (…)”
  • Anáfora, Repetição anafórica
    • “(…) agora vai à casa do noviciado da companhia de Jesus, agora à igreja paroquial de S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier, agora visita a imagem de Nossa Senhora das Necessidades…”
    • “(…) podes começar já pela primeira palavra, que é a Casa de Jerusalém onde Jesus Cristo morreu por todos nós, é o que dizem, e agora as duas palavras, que são as duas tábuas de Moisés onde Jesus Cristo pôs os pés, é o que dizem, e agora as três palavras, que são as três pessoas da Santíssima Trindade, é o que dizem, e agora as quatro palavras, que são os quatro evangelistas, João, Lucas, Marcos e Mateus, é o que dizem, e agora as cinco palavras, que são as cinco chagas de Jesus Cristo, é o que dizem, e agora as seis palavras, que são os seis círios bentos que Jesus Cristo teve no seu nascimento, é o que dizem (…)”
    • “Passam velozmente sobre as obras do convento, mas desta vez há quem os veja, gente que foge espavorida, gente que se ajoelha ao acaso e levanta as mãos implorativas de misericórdia, gente que atira pedras, o alvoroço toma conta de milhares de homens (…)
    • “(…) ajoelhai, ajoelhai, pecadores, agora mesmo vos devíeis capar para não fornicardes mais, agora mesmo devíeis atar os queixos para não sujardes mais a vossa alma com a comilança e a bebedice, agora mesmo devíeis virar e despejar os vossos bolsos porque no paraíso não se requerem escudos (…)”
  • Paralelismo de Construção e do Polissíndeto
    • “(…) também há modos diferentes de pagar e cobrar o imposto, com o dinheiro do sangue e o sangue do dinheiro, mas há quem prefira a oração, é o caso da rainha, devota parideira que veio ao mundo só para isso, ao todo dará seis filhos, mas de preces contam-se por milhões, agora vai à casa do noviciado da Companhia de Jesus, agora à igreja paroquial de S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier, agora visita a imagem de Nossa Senhora das Necessidades, agora vai ao convento da Conceição de Marvila, e vai ao convento de S. Bento da Saúde, e vai visitar a imagem de Nossa Senhora da Luz, e vai à igreja do Corpo Santo, e vai à igreja de Nossa Senhora da Graça, e à igreja de S. Roque, e à igreja da Santíssima Trindade, e ao real convento da Madre de Deus, e visita a imagem de Nossa Senhora da Lembrança, e vai à igreja de S. Pedro de Alcântara, e à igreja de Nossa Senhora de Loreto, e ao convento do Bom Sucesso (…)”
  • Quiasmo
    • “todos têm uma parte de ciência e outra de mando, a ciência por causa do mando, o mando por causa da ciência”
  • Enumeração
    • “(…) já que não podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, é essa a nossa obrigação, só para isso escrevemos, torná-los imortais, pois aí ficam, se de nós depende, Alcino; Brás, Cristóvão, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horácio, Isidro, Juvino, Luís, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitério, Rufino, Sebastião, Tadeu, Ubaldo, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos representados (…)”
    • “vai escriturando no rol os bens e as riquezas, de Macau as sedas, os estofos, as porcelanas, os lacados, o chá, a pimenta, o cobre, o âmbar cinzento, o ouro.”
    • “ Está o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez acompanhada de mãe ou prima, ou aia, ou tolerante avó, ou tia assadíssima”
    • “Solene procissão de juízes, corregedores e meirinhos”
    • “padres, confrarias e irmandades”
    • “cordas, panos, arames, ferros confundidos”
  • Antítese
    • “Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das casas baixas.”
    • “ A obra é longa, a vida é curta”
  • Eufemismo
    • “Que ele próprio poderá amanhã fechar os olhos para todo o sempre”
  • Comparação
    • “O sol está pousado no horizonte do mar, como uma laranja na palma da mão”
    • “passadas as roupas de mão em mão tão reverentemente como relíquias de santos que tivessem trespassado donzelas”
    • “Empoleirado em andas como uma cegonha negra”
    • “passando os braços como crucificados”
    • “triste morte, foi um abalo muito grande, como um terramoto profundo que lhe tivesse rachado os alicerces”

Este último exemplo é uma comparação, mas também pode estar associada à hipérbole.

  • Metáfora
    • "O cântaro está à espera da fonte."
    • “(…) para D. Maria Ana é que lhe vem chegando o tempo. A barriga não

aguenta crescer mais por muito que a pele estique, é um bojo enorme, uma nau da Índia.”

o “Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro (…)”

o “(…) olharem-se era a casa de ambos (…)”

o “(…) a procissão é uma serpente enorme que não cabe direita ao Rossio e por isso se vai curvando e recurvando”

  • Hipérbole
    • “é um mar de gente de um e outro lado, portugueses de cá, espanhóis de lá.”
    • “à vista do mar de povo que enchia a praça (…)”
  • Hipálage
    • “Entrou no açougue que dava para a praça, a regalar a vista sôfrega nas

grandes peças de carne (…)”

    • “de coração manso e alegre vontade”
    • “nem Romeu que, descendo, colhe o debruçado beijo de Julieta”
  • Sinestesia
    • “puxa o cordão da sineta […] pairam cheiros diversos”
  • Gradação
    • “O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, e um dia voará…”
    • “A barriga não aguenta crescer mais por muito que a pele estique, é um bojo enorme, uma nau da Índia, uma frota do Brasil” (Aqui temos a gradação associada a hipérbole.)
    • “Ah, gente pecadora, homens e mulheres que em danação teimais viver essas vossas transitórias vidas, fornicando, comendo, bebendo mais que a conta, faltando aos sacramentos e ao dízimo, que do inferno ousais falar com descaro e sem pavor…”
  • Personificação
    • “Fechou-se a noite por completo, a cidade dorme, e se não dorme calou-se.”
    • “(…) bendita sejas tu, noite, que cobres e proteges o belo e o feio com a mesma indiferente capa, noite antiquíssima e idêntica, vem”

Neste caso trata-se de uma personificação associada a uma apóstrofe).

  • Onomatopeioa
    • truca-truca, truca-truca, com o cinzel e a maceta.”
    • “só os canteiros continuaram a bater a pedra, truca-truca, truca-truca
    • taratatá-tá, sopra a corneta”
    • toque-toque-toque, lindo burriquito”
    • Êeeeeeiii-ô, se os bois puxarem mais de um lado que do outro, estamos mal aviados, Êeeeeeiii-ô, agora saiu o grito (…)”
  • Sarcasmo
    • "Porém, esta religião é de oratório mimoso, com anjos carnudos e santos

arrebatados, e muitas agitações de túnica, roliços braços, coxas adivinhadas, peitos que arredondam, revirações dos olhos, tanto está sofrendo quem goza como está gozando quem sofre, por isso é que não vão os caminhos dar todos a Roma, mas ao corpo."

  • Ironia
    • "(...) com o que pretende sua majestade pôr cobro ao escândalo de que são causa os freiráticos, nobres e não nobres, que frequentam as esposas do Senhor e as deixam grávidas no tempo de uma ave-maria, que o faça D. João V, só lhe fica bem, mas não um joão-qualquer ou um josé-ninguém."
    • “se este rei não se acautela acaba santo”
    • “(…) aí está uma estátua oferecida na palma da mão, um profeta de barriga para baixo, um santo que trocou os pés pela cabeça, mas nestas involuntárias irreverências ninguém repara, tanto mais que logo el-rei reconstitui a ordem e a solenidade que convém às coisas sagradas.”
    • “Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça.”
    • “(…) a mulher, entre duas igrejas, foi a encontrar-se com um homem, qual seja, e a criada que a guarda troca uma cumplicidade por outra, e ambas quando se reencontram diante do próximo altar, sabem que a quaresma ao existe e o mundo está felizmente louco desde que nasceu.”
    • “Dizem que o reino anda mal governado, que nele está de menos a justiça, e não reparam que ela está como deve estar, com sua venda nos olhos, sua balança e sua espada, que mais queríamos nós.”
    • “(…) passadas as roupas de mão em mão tão reverentemente como relíquias de santos que tivessem trespassado donzelas”

 

“Tornar estranha a língua que nos é familiar significa de certa forma reinventá-la, multiplicar os seus mundos, e fazer-nos participar pela leitura dessa reinvenção e dessa pluraçidade.”

Manuel Gusmão, in Jornal de Letras, 30 de Dezembro de 1998

terça-feira, 1 de junho de 2010

Memorial do Convento



Tempo

Tempo Histórico:

Em Memorial do Convento, de José Saramago, publicado em 1982, a acção decorre no início do século XVIII, durante o reinado de D.JoãoV e da Inquisição. Este rei absolutista gozou da enorme quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil e mandou construir o magnífico Palácio Nacional de Mafra, mais conhecido por Convento, em resultado de uma promessa que fez para garantir a sucessão do trono.

Através da íntima relação entre o que é fictício e o que é histórico, o romance critica a exploração dos pobres pelos ricos – que origina guerra entre os indivíduos – e a corrupção pertencente à natureza humana – com especial foco à corrupção religiosa.



Tempo da Narração:

O tempo narrativo resulta da articulação do tempo da história e do tempo do discurso.

Na narração da obra a acção data entre 1711 a 1739 (29 anos): inicia com a apresentação do rei e termina com o último auto-de-fé em Portugal, em que Baltasar morre.

Tempo do discurso:

O modo como influencia a cronologia da acção (tempo da narração) e na maior parte do romance linear, tendo porém algumas analepses e prolepses, utilizada por exemplo para narrar a morte do sobrinho de Baltasar e do Infante D. Pedro e a elipse, utilizada na discrição do período em que Blimunda procurou Baltasar durante nove anos; e ainda a presença do narrador através dos seus comentários, juízos críticos, registos de língua e referências ao século XX.

Prolepses: O narrador heterodiegético e omnisciente, apesar de respeitar a cronologia e a datação de eventos históricos tratados no romance (sagração do convento, casamento dos príncipes) recorre a diversas prolepses, quer para anunciar acontecimentos futuros, quer para registar a diferença entre o tempo da história e o tempo do discurso, quer para fazer comentários e comparações ente épocas histórias diferentes.



ESPAÇO PSICOLÓGICO

O espaço psicológico diz respeito ao universo interior dos personagens e, nalguns casos, também do narrador – quando este participa da acção narrada e sobre ele reflecte, p.e. Este universo interior consiste no conjunto de todas as manifestações não físicas como pensamentos, emoções, sentimentos, sensações, etc., que no texto são expressas de forma indirecta (através do narrador) ou de forma directa (nos monólogos e diálogos dos próprios personagens).

No caso do Memorial do Convento, o espaço psicológico é sobretudo “habitado” por sonhos, pensamentos e a atmosfera do romance. De seguida, vamos explorar cada um destes três “habitantes”:



Sonhos:

Os sonhos do rei e da rainha contrastam com os das outras personagens, sobretudo porque evidenciam o desamor que marca a relação do casal real: o protagonista da acção D. João V sonha com a sua própria imortalidade, com a descendência e com o convento – este por sua vez é casado com D. Maria Josefa, de Áustria, com a qual tem uma relação de dever conjugal e não de amor; Megalómano, promete construir um convento em Mafra. D. João é um homem excessivo, rico e poderoso – também tem a sua vaidade, é pretensioso, prepotente, representa o poder acromático. Enquanto D. Maria Ana Josefa é atormentada pelo facto de sonhar com o seu cunhado, o infante D. Francisco - É uma beata, devota; é uma mulher carinhosa, preocupada, cumpridora como esposa e como mãe.

Baltasar sonha com Blimunda, com o trabalho, com os animais, a terra, o ar; - Baltasar e Blimunda têm sonhos comuns e, por vezes, sonham em conjunto com o padre Bartolomeu de Gusmão, nomeadamente no que diz respeito à passarola, o que evidencia o profundo envolvimento das três personagens na realização daquela obra, ao contrário da construção do convento, executada à custa do trabalho de milhares para a realização do sonho de um só - D. João V.

- «Baltasar Mateus foi mandado embora do exército por já não ter serventia nele, depois de lhe cortarem a mão esquerda pelo nó do pulso, estraçalhada por uma bala em frente de Jerez de los Caballeros» (p. 35)



Pensamentos

Os pensamentos das personagens revelam o seu mundo interior, os seus desejos, sonhos e ambições.



Atmosfera do romance

A atmosfera do romance é densa e pesada, em virtude da religiosidade opressiva, com traços de fanatismo, imposta pelos clérigos e pelas ordens religiosas que manobram a vida dos lisboetas, os habitantes da corte, os operários que trabalham nas obras do Convento de Mafra. Tudo parece girar em função da motivação religiosa: desde o nascimento da herdeira real, resultado de uma promessa, à construção do convento. A própria rainha vive dominada pelo fanatismo religioso.

Por outro lado, à excepção das touradas, todos os divertimentos e acontecimentos importantes ou são de cariz religioso, ou têm a ver com a Igreja, ou misturam o religioso e o profano (como os festejos que antecedem a procissão do Corpo de Deus), ou ainda a religião e a luxúria (por exemplo, a procissão da penitência e as saídas das mulheres para visitar as igrejas durante a Quaresma). Pairando sobre tudo isto está sempre a mancha negra da Inquisição e os autos-de-fé, para gáudio e elevação espiritual de nobres e plebeus.

O sermão proclamado aquando do transporte da pedra e após a morte de Francisco Marques representa a demagogia exercida pelo clero sobre o povo ignorante.

O lar de Marta Maria e João Francisco distinguem-se desta imagem profundamente negativa da sociedade portuguesa, pela tolerância com que recebem o filho e a nora, que suspeitam não estar casados conforme mandam as leis da Igreja -, não questionando algumas estranhezas que notam em Blimunda, embora essa tolerância não seja tão grande que a aceitassem se ela fosse uma cristã-nova.



Espaço físico


A acção de Memorial do Convento desenrola-se em dois grandes espaços: Lisboa e Mafra, a que se acrescenta o Alentejo, em circunstâncias bem específicas.

Lisboa é um Macroespaço caracterizado, genericamente, como uma cidade com muralhas e com abundância de igrejas ("Lisboa derramava-se para fora das muralhas. Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das casas baixas, a massa indistinta das empenas." - p. 40), o que denuncia o ambiente profundamente religioso e beato que a domina. Por dentro, é descrita como uma cidade suja [" (...) a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove." - p. 28].


Enquanto Macroespaço, integra outros espaços:

Mercado de peixe, espaço contrastante com a visão imunda da cidade ("Sete-Sóis atravessou o mercado de peixe. (...) Mas no meio da multidão suja, eram miraculosamente asseadas, como se as não tocasse sequer o cheiro do peixe que removiam às mãos cheias..." - p. 42).

Paço: trata-se de um espaço de que não há grandes descrições, ressaltando apenas as atitudes das personagens que o habitam e os factos que lá têm lugar.

Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. Onde também decorriam as touradas.

Rossio: local onde decorrem os autos-de-fé.

S. Sebastião da Pedreira: espaço isolado onde é construída a passarola. Na época, era um espaço rural, onde existiam várias quintas que integravam palacetes.

Abegoaria: constitui o ninho de amor de Baltasar e Blimunda. Da descrição que o narrador dela faz, podemos inferir a simplicidade da vida e a pobreza do casal ("Num canto da abegoaria desenrolaram a enxerga e a esteira, aos pés dela encostaram o escano, fronteira a arca, como os limites de um novo território, raia traçada no chão e em panos levantada, suspensos estes por um arame para que isto seja de facto uma casa..." - p. 88). Por outro lado, aí se vai construindo a passarola.

O outro espaço é o de Mafra, o segundo macroespaço, pouco descrito. É aí que milhares de homens, em condições infra-humanas, vão construindo, ao longo de décadas, o convento, muitos deles perdendo lá a própria vida ("... o abençoado há-de ir a Mafra também, trabalhará nas obras do convento real e ali morrerá por cair de parede, ou da peste que o tomou, ou da facada que lhe deram, ou esmagado pela estátua de S. Bruno..." - p. 117). Nesta vila, destaca-se outro espaço: o alto da Vela, local escolhido por D. João V para edificar o convento e que deu lugar à chamada vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a Ilha da Madeira, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, posteriormente, a quarenta mil.



Um terceiro espaço é o Alentejo, um lugar povoado por mendigos e salteadores. Esta zona do reino é percorrida por Baltasar após o seu regresso da Guerra da Sucessão e, mais tarde, pelo cortejo real, que vai de Lisboa a Elvas, por ocasião do casamento dos príncipes D. Maria Bárbara e D. José com os príncipes espanhóis. Nestas ocasiões, realçam-se a miséria e a penúria de quem aí habita, bem como os caminhos de lama e de pobreza.

Outros locais a considerar são Pêro Pinheiro, local de onde é originária a pedra, e a Serra do Barregudo, lugar onde a passarola pousou e esteve escondida e donde partiu para a derradeira e fatal viagem de Baltasar.

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Plano do Trabalho


INTRODUCÃO:

O Memorial do Convento é um dos mais belos romances de José Saramago, o único Nobel da literatura em língua Portuguesa começando pela construção do convento.

No reinado de D. João V, enredam-se, vários romances, o projecto da passarola voadora do padre Bartolomeu de Gusmão, a Inquisição, o amor fantástico de Baltazar e Blimunda.

Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos, as analepses explicam os acontecimentos passados, as prolepses antecipam os acontecimentos.



DESENVOLVIMENTO:

O tempo (histórico, da narração e da escrita).

O espaço – espaços físicos e psicológicos – sua função na economia da obra.

CONCLUSÃO:

O Memorial do Convento é uma obra que todas as pessoas deviam ler é muito interessante.

Fala-nos da época que éramos governados pela monarquia, mesmo nesse tempo aonde tudo era bem controlado já havia histórias de amor, mas também havia muita gente que morria inocente com a aquisição

O. Autor JOSE SARAMAGO escreve com uma lucidez e esta bem para o alcance de todos os leitores.

Também tem algumas histórias de fictícias mas não deixa de ser muito bom.

Memorial do Convento - Acção

Resumo da acção

A história de “ Memorial do Convento” pode dividir-se em duas vertentes, por um lado refere factos históricos na época da construção do mosteiro de Mafra por D. João V, por outro adopta a criação do enredo com Baltazar sete-luas e Blimunda sete-sóis na construção de um engenho voador. No primeiro tema trata-se de relatar episódios referentes a esse período histórico, ironizando e criticando esses mesmos episódios, referentes à construção do mosteiro de Mafra, que D. João V acaba por oferecer ao Clero, de forma a cair nas boas graças de Deus para que sua esposa lhe dê um herdeiro. A construção fica marcada pela utilização do povo oprimido, fazendo inúmeras vítimas na colocação da grande pedra para o pórtico. E pelo esforço financeiro do país onde se viria a gastar grandes fortunas em materiais e em técnicos de construção. José Saramago satiriza e ridiculariza então estes acontecimentos, pondo a claro, e denunciando a utilização deste povo oprimido pela elite e clero da altura. No que diz respeito à outra história que se vai entrelaçando ao longo da obra, trata-se basicamente de uma história de amor entre Baltazar sete-luas e Blimunda sete-sóis, humildes elementos do povo, que se unem ao Padre Bartolomeu no seu sonho de voar. Esta história tem implícita uma metáfora de liberdade, já que o engenho de seu nome “Passarola” que querem construir funciona com as derradeiras vontades dos moribundos como combustível. Blimunda que tem o dom de ver as pessoas por dentro consegue assim captar essas ultimas vontades, acabando por fazer o engenho funcionar. O Padre acaba sendo perseguido pela inquisição e tem que fugir para Toledo. O engenho fica assim à guarda de Baltazar e Blimunda, que o escondem. Certo dia durante a manutenção do engenho, Baltazar foi experimentá-lo e acaba por não voltar. Blimunda procura-o durante nove anos e acaba por encontrar Baltazar em Lisboa a caminho da fogueira, no momento antes da sua morte a sua vontade é recolhida no peito da sua amada.

Acção principal e secundária

A análise de Memorial do Convento permite constatar a existência de duas narrativas simultâneas: uma de carácter histórico e outra de ficção.
A acção principal é a edificação do convento de Mafra – desejo e promessa de D. João V e a acção secundária é a história de amor entre Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis; a construção da passarola (sonho de Bartolomeu de Gusmão).
Na acção principal encaixam-se outras acções, constituindo diferentes linhas de acção que se articulam com a primeira.

1ª. Linha de acção – a do rei D. João V
Abrange todas as personagens da família real e relaciona-se com a segunda linha de acção, uma vez que a promessa do rei é que vai possibilitar a construção do convento. Esta linha tem como espaço principal a corte e, depois, o convento, na altura da sua inauguração, no dia do aniversário do rei.

2ª. Linha de acção – a dos construtores do convento
Esta é a linha da acção principal da história, a par da quarta, a que respeita á construção da passarola. Esta segunda linha de acção vai ganhando relevo e une a primeira à terceira: se o convento é obra e promessa do rei, é ao sacrifício dos, aqui representados por Baltasar e Blimunda, que ela se deve.
Honram-se aqui os homens que se sacrificam, passam por dificuldades, mas que também as vencem.

3º. Linha de acção – a de Baltasar e Blimunda
Nesta linha relata-se uma história de amor e o modo de vida dos portugueses. Baltasar e Blimunda são os construtores da passarola; Baltasar é também, depois o construtor do convento, constituindo-se como paradigma da força que faz mover Portugal, a do povo.

4ª. Linha de acção – a de Bartolomeu Lourenço
Relaciona-se com o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora. Articula-se com a primeira e segunda linhas de acção, porque o padre é mediador entre a corte e o povo. Também se enquadra na terceira linha, dado que a construção da passarola resulta da força das vontades que Blimunda tem de recolher para que a passarola voe.

Verifica-se a existência de um plano de ficção que se cruza com a História, uma vez que a construção da passarola, evento a que a História se refere, acaba por ser ficção quando se afirma que se moverá pela força das “vontades” que Blimunda recolhe.
A construção da passarola é o fio condutor de toda a narrativa pois consegue-se observar quase todos os passos, e até partilhar do entusiasmo das personagens, enquanto que da construção do convento só se sabe as fases da construção. Parece, até, que só a partir do décimo sétimo capítulo é que a passarola cede lugar ao convento. Na realidade, é a construção da máquina que conduz a narrativa e é ela que materializa o sonho dos seus construtores e lhes vai permitir a fuga de um mundo dominado pela injustiça e pela prepotência que caracteriza a política vigente.

Modos de organização

As sequências narrativas, que fazem parte da acção, podem surgir articuladas de três maneiras diferentes:

• Encadeamento: por exemplo, o desenrolar da relação amorosa entre Blimunda e Baltasar, a partir do momento em que se conhecem no auto-de-fé, onde a mãe de Blimunda é condenada, até ao reencontro do casal no final da acção, na altura em que Baltasar está a ser queimado na fogueira da Inquisição.

• Encaixe: por exemplo, as histórias de vida que Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-tempo e Baltasar Mateus contam uns aos outros (Cap. XVIII), quando estes se encontram longe dos seus lares a trabalhar na construção do convento.

• Alternância: por exemplo, a história de Manuel Milho sobre uma rainha e um ermitão (Cap. XIX) é contada por partes, à noite, dando lugar à narração de outros eventos.

Fontes: Manual de Português – INTERACÇÕES – Texto Editores
www.resumos.net

sábado, 29 de maio de 2010

Trabalho de português sobre o “Memorial do Convento” de José Saramago/Personagens, narrador e narratório

PERSONAGENS

No romance, há dois tipos de personagens distintos: as históricas e as ficcionais. Saramago pretende evidenciar dois tipos de vivências humanas: uma, em que os homens se servem dos seus semelhantes para atingir determinados objectivos; outra, em que os homens se servem dos próprios meios para alcançar esses mesmos fins. Tal facto está ao serviço da intenção do autor, que pretende fazer a análise das condições sociais, morais e económicas da corte e do povo. Os dois tipos de personagens, as histórias e as ficcionais – cuja caracterização é predominantemente indirecta e psicológica – convivem em simultâneo, sendo a intenção narrador, ao apresentar duas vivências antagónicas, desmascarar injustiças sociais quase sempre negligenciadas pela História ao longo do tempo.

As personagens históricas pertencem a uma classe social privilegiada (nobreza/clero) que vive a seu belo prazer, menosprezando os interesses do povo:

o D. João V – rei de Portugal. De carácter vaidoso, magnificente e megalómano pretende deixar uma obra que ateste a grandeza da sua riqueza e do seu poder, ainda que para tal se tenha de sacrificar o povo. A caracterização do rei é feita predominantemente através da descrição das suas acções e dos seus pensamentos – de modo indirecto.

o D. Maria Ana Josefa – oriunda da Áustria, a rainha revela-se extremamente devota e submissa, cujo papel se resume basicamente a dar herdeiros ao rei.

o A infanta D. Maria Bárbara – filha primogénita do casal real. Tem cara de lua cheia, é bexigosa e feia, mas boa rapariga. Casa aos 17 anos com o infante D. Fernando de Espanha, pelo que não chega sequer a ver o convento erigido em honra do seu nascimento.

o O infante D. Francisco – irmão de D. João V. é um homem sem escrúpulos que cobiça o trono e a esposa do rei, bem como se entretém a provar a sua boa pontaria de espingarda nos marinheiros que estão nos barcos ancorados no Tejo.

o Domenico Scarlatti – músico italiano. É um homem de completa figura, rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados. Foi contratado para dar lições de música à infanta D. Maria Bárbara. Também ele partilha o segredo da construção da “passarola”, deslocando-se várias vezes à quinta do duque de Aveiro onde toca cravo para gáudio dos presentes.

o João Frederico Ludovice – arquitecto alemão, contratado para construir o convento de Mafra que sabe que uma vida, para ser bem sucedida, haverá de ser conciliadora, sobretudo por quem a viva entre os degraus do altar e os degraus do trono.

o O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão – Figura que tem fundamento histórico. Imbuído de um espírito aberto e despreconceituoso, movimenta-se na corte e na academia de Coimbra. Acalenta o sonho de um dia voar, daí o seu projecto da “passarola”, apoiado por el-rei D. João V de quem é amigo. Mantém, do mesmo modo, laços de profunda amizade com Baltasar e Blimunda, que o ajudam na construção da “máquina voadora”, e com quem, segundo as suas palavras, forma uma trindade terrestre, o pai, o filho e o espírito Santo. Transtornado com a perseguição da Inquisição, refugia-se em Toledo, onde acaba por falecer.

Na caracterização das personagens pertencentes a este grupo, há, quase sempre, um tom depreciativo e irónico que marca o distanciamento temporal e, sobretudo, afectivo do narrador.

Pelo contrário, a caracterização das personagens ficcionais, a quem o narrador confere maior destaque, reveste-se de um tom francamente positivo e valorativo, tanto mais que pertencem na sua maioria a um grupo social desfavorecido e, muitas vezes, explorado/oprimido pelas classes do poder.

o Baltasar Mateus – de alcunha, o sete-sóis, esteve na guerra de sucessão de Espanha, durante quatro anos, da qual foi dispensado por ter perdido a mão esquerda em combate. De regresso, a Lisboa conhece num, auto-de-fé, Blimunda, a quem se liga amorosa e espiritualmente. A convite do padre Bartolomeu Lourenço, ajuda a construir a “passarola”, sonho que passa também a ser seu. Mais tarde, trabalha nas obras do convento de Mafra, como servente. Após a morte do padre, zela pela preservação da “máquina voadora” e, um dia, por descuido, é levado ao acaso, acabando por ser queimado 9 anos depois num auto-de-fé pela Inquisição. Trata-se de um homem do povo, analfabeto e humilde, que aceita a vida tal como esta se lhe apresenta.

o Blimunda de Jesus – uma mulher do povo, a quem o padre Bartolomeu Lourenço, baptiza de “sete-Luas”. Vive um amor apaixonado, franco e leal com Baltasar. Tem o dom de, em jejum, ver o interior das pessoas e das coisas, o que lhe permite recolher as duas mil “vontades” indispensável para a “passarola” voar. Detentora de grande densidade psicológica e de uma perseverança sem limites, procura “o seu homem” durante nove anos, unindo-se ao mesmo numa comunhão espiritual ao resgatar a sua “vontade” quando finalmente o reencontra num auto-de-fé em que este está a ser queimado no fogo da Inquisição… O nome de Blimunda, estranho e raro tal como a personagem que o veste, teria surgido ao narrador, talvez pela musicalidade que ele encerra ou pela magia das suas três sílabas, símbolo da perfeição. Esta figura representa a força que permite ao povo a sua sobrevivência, assim como contestar o poder e resistir.

o Sebastiana Maria de Jesus – mãe de Blimunda, um quarto de cristã-nova condenada a ser açoitada em público e ao degredo por ter “visões e revelações”.

o Marta Maria – mãe de Baltasar, é quem recebe o “filho pródigo” e Blimunda em sua casa, quando estes vão pela primeira vez juntos a Mafra.

o João Francisco ¬ – pai de Baltasar. Homem do povo cuja subsistência reside na agricultura.

o Inês Antónia – irmã de Baltasar, mãe de dois filhos, que sofre a morte do rapaz mais novo, com pouco mais de dois anos.

o Álvaro Diogo – homem do povo e antigo soldado com quem Baltasar trava amizade ao chegar a Lisboa.

o Os trabalhadores do convento – personagem colectiva, cuja “força bruta” e esforço desmedido são explorados de forma desumana.


O povo em geral – massa anónima tantas vezes subestimada e esquecida pela História – é apresentado como o verdadeiro herói, na medida em que foi à custa do seu sacrifício, e muitas vezes da própria morte, que se tornou possível a edificação do megalómano convento. Saramago sentiu a necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras à luz de uma nova realidade criada no presente e que tem implicações na construção de valores sociais futuros.


NARRADOR

Em Memorial do Convento é maioritariamente heterodiegético, quanto à presença, e omnisciente, quanto à ciência/focalização. No que respeita à sua posição profere juízos de valor, opiniões, comentários e divagações pelo que, neste caso, é subjectivo.

Há, no entanto, momentos em que o narrador empresta a sua “voz” a diversas personagens, adoptando deste modo o seu ponto de vista (focalização interna).

O estatuto do narrador assume, por vezes, atitudes aparentemente contraditórias: por um lado, há uma tentativa de aproximação à época retratada não só através da reconstituição do ambiente vivido, mas também do vocabulário usado; e, por outro lado, há um distanciamento do narrador, perceptível no recurso a prolepses, à ironia e a uma actualização ao nível da linguagem. (por exemplo, a narração do cerimonial respeitante aos encontros sexuais entre o rei e a rainha, apesar de retratar o ritual próprio da época, reveste-se de extrema ironia, o que evidencia um narrador distanciado do tempo histórico apresentado.

No que diz respeito a actualizações ao nível do vocabulário, o narrador não só utiliza termos usado num tempo posterior ao da diegese, como os que se prendem com a aviação; mas também procura explicitar conceitos que, na actualidade, sofreram alterações como é o caso da denominação das refeições: passou a manhã, foi a hora de jantar, que é este o nome da refeição do meio-dia, não esqueçamos.

Trata-se, assim, de um narrador que se movimenta entre o passado, o presente e o futuro; detentor de um vasto conhecimento que lhe permite controlar a acção e as personagens.

NARRATÁRIO

O narratário surge no interior da narrativa, como entidade fictícia, a quem o narrador se dirige, explícita ou implicitamente. É, portanto, o destinatário da mensagem do narrador.

Ao longo do romance, há momentos em que transparece a ideia de que o narrador participa na acção, e outros em que o narrador envolve igualmente um tu, através do uso da primeira pessoa do plural que ora assume contornos de um eu nacional e/ou colectivo ora se trata claramente de uma interpelação a um narratário a quem dirige a sua mensagem.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Invasões francesas



Antes de começar a invasão, o príncipe D. João, diz a Napoleão que iria cumprir com o bloqueio continental, declarando guerra á Inglaterra (30 de Outubro), em Novembro ordenou prender os Ingleses que estavam residentes em Portugal.






A mandato do general Jean-Andoche deu entrada das tropas francesas em Espanha (18 de Outubro de 1807), alcançando a fronteira portuguesa em 20 de Dezembro.


As tropas francesas já não tinham resistência militar, por isso foram invadidos por uma coluna de tropas a Abrantes (24 de Dezembro); de tão desgastados que estavam pela marcha que haviam feito, o exército francês teve dificuldade para ultrapassar o rio Zêzere, entrando em Santarém, de onde teve de partir no mesmo dia, com rumo a Lisboa. Um dia antes, a Família Real e a corte portuguesa haviam saído para o Brasil a bordo de uma larga esquadra naval, protegida por naus britânicas, e levando consigo cerca de 15 mil pessoas, deixando o governo do território europeu de Portugal nas mãos de uma regência, com instruções para não "resistir" aos invasores.


Ao chegar a Lisboa, Junot tomou medidas para a instalação das tropas que o precediam.


No dia 2 de Dezembro, o general laborde deu entrada na cidade, com os efectivos reduzidos, com muitos homens montados em burro, ele manter-se de pé. Em três semanas depois de chegar a Lisboa, junot e os seus restantes afectivos e soldados acabaram por invadir Portugal, distribuindo-os ao redor de Lisboa. A divisão espanhola de Solano, saindo de Badajoz, tomara entretanto Elvas e Campo Maior, indo estabelecer o seu quartel-general em Setúbal, ocupando também Alcácer do Sal e, no Algarve, Tavira e Lagos. A divisão de Tarranco, com cerca de 6 mil homens, entrou por Valença e foi garantir a tomada da cidade do Porto, onde já estava o general Juan Carrafa com 4 mil homens, vindos por Tomar e Coimbra. Iniciava-se o período do domínio francês de "El-Rei Junot".






Entretanto, Napoleão envia mais tropas para o norte de Espanha que, sob o pretexto apoiar as tropas de ocupação em Portugal, tomam as cidades de Pamplona, Barcelona, Figueras (Catalunha) e San Sebastian. O marechal Joaquim Murat, cunhado de Napoleão, atravessa então Bidassoa e marcha com 100 mil soldados sobre Madrid. O rei Fernando VII recebe o marechal Murat como aliado, confiando ainda que Napoleão cumprirá o Tratado de Fontainebleau. Em Abril, o rei Fernando VII de Espanha é forçado a abdicar em Baiona e a reconhecer José Bonaparte como rei de Espanha. Além do rei Fernando VII de Espanha, são colocados sob prisão Carlos IV, a rainha, e Manuel de Godoy. Perante a anulação da Casa Real Espanhola, dá-se a ocorrência do levantamento de 2 de Maio da população de Madrid contra os franceses, levando Murat a ordenar o fuzilamento de milhares de espanhóis, que Francisco Goya, em 1814, veio a homenagear no quadro "Os fuzilamentos de 3 de Maio".


O príncipe regente de Portugal, no Brasil, declarava nulos todos os tratados de Portugal com a França, declarando guerra aos franceses e amizade ao seu antigo aliado, a Grã-Bretanha (em 9 de Maio de 1808). A notícia do levantamento do povo espanhol levou o general Solano a retirar com as suas tropas para Espanha. O general Quesnel, um francês que substituíra Tarrancos por morte deste, é preso pelas tropas espanholas de Balestra que, entretanto, recebera também ordem de regressar a Espanha.






Em Portugal, as tropas francesas sob o comando de Junot ficam reduzidas às concentrações numa área em volta de Lisboa, delimitada pelo Atlântico, o rio Tejo, e por uma linha que ia de Peniche até Abrantes. No resto do território, os franceses dispunham de forças em posições fortificadas em Setúbal, Almeida e Elvas. Fora dessa área e dessas localidades, os franceses deslocavam-se ainda com um certo à vontade, provocando baixas às forças portuguesas e às populações que se lhes opunham. A resistência portuguesa crescia porém dia-a-dia. Quando uma força francesa sob o comando do general Loison, sediada em Almeida, tentou marchar sobre o Porto, viu-se cercada por forças de guerrilha de camponeses rudimentarmente armados, mas muito aguerridos. Após três dias de combates, Loison é forçado a retroceder.






No dia 1 de Agosto, as tropas britânicas começaram a desembarcar perto da Figueira da Foz, marchando no dia 10 em direcção a Leiria onde se juntaram às forças portuguesas de Bernardino Freire, comandante do exército português em Montemor-o-Velho. No total seriam cerca de 20 mil homens; 14 mil britânicos e 6 mil portugueses. Do lado francês, havia inicialmente 30 mil homens, mas calculou-se que não haveria agora mais de 12 mil homens nos arredores da capital. Os restantes estariam distribuídos por Tomar, Abrantes, etc., a que havia que descontar o número de baixas provocados pelas guerrilhas populares e pelas deserções. Travaram-se, na sequência, a batalha de Roliça e a batalha do Vimeiro, vencidas pelos aliados Portugal/Reino Unido da Grã-Bretanha forçando à Convenção de Sintra.










A segunda invasão






Enquanto em Portugal se lutava contra a ocupação francesa, Napoleão mantinha no trono espanhol o seu irmão José Bonaparte. Os espanhóis, em revolta contra os usurpadores franceses, obtêm apoio das tropas britânicas estacionadas no norte de Portugal. Sob o comando de John Moore, os Britânicos passam a fronteira no início de 1809, para serem derrotados, na Corunha, pelo Marechal Nicolas Jean de Dieu Soult. Obrigadas a retirar, deixaram a descoberto a fronteira com Portugal, permitindo a Soult invadir o país pela fronteira de Trás-os-Montes e Alto Douro (Chaves) em Março de 1809, vencendo a Batalha do Carvalho d'Este e avançando até à cidade do Porto, que ocuparam a 24 desse mês, fixando fronteira no rio Douro.


A 12 Maio desse mesmo ano, tropas Luso-Britânicas sob o comando do General Arthur Wellesley e do comandante-em-chefe o Marechal William Carr Beresford, atravessaram o Rio Douro e venceram a chamada batalha do Douro, reconquistando a cidade do Porto (29 de Maio) e expulsando o invasor, que se retirou para a Galiza. Seguindo para o sul, as tropas de Wellesley travaram a batalha de Talavera em território espanhol e regressaram a Portugal. Como consequência, as hostes do Marechal Soult não conseguiram atravessar o rio Vouga, perderam a escaramuça de Serém e foram obrigados a retirar-se para o Norte, tendo-se acantonado na cidade do Porto.










A Terceira invasão






Uma terceira invasão francesa do território português teve início em 1810, sob o comando do Marechal André Masséna. Penetrando pela região Nordeste de Portugal, conquistou a Praça-forte de Almeida (Agosto), na fronteira, marchando em seguida sobre Lisboa. Interceptado pelas forças luso-britânicas, foi derrotado na batalha do Buçaco (27 de Setembro). Reagrupando as suas forças, retomou a marcha, flanqueando as tropas luso-britânicas e forçando-as a recuarem para defender a capital. Os franceses atingiram as Linhas de Torres a 14 de Outubro, erguidas na previsão dessa eventualidade e onde as tropas luso-britânicas os aguardavam desde o dia 10, retirando-se, derrotados, ao final do dia seguinte.










Conselho de regência/regência inglesa






Invasões francesas – 1807;


D. João sexto refugia-se no Brasil em 1808;


Exército francês deixa o país em 1810;


Administração do reino entregue a uma tríade: D. João António Meneses e Sousa Coutinho;


D. Miguel pereira forjaz; William Beresford






Contestação popular






Gomes freire acusado de conspiração é condenado à morte;


Advento do liberalismo em 1820






Contexto Histórico


Paralelismo Histórico Tempo da História (século XIX – 1817) - agitação social - regime absolutista e tirânico - classes sociais fortemente hierarquizadas - classes dominantes com medo de perder privilégios - povo oprimido e resignado - a “miséria, o medo e a ignorância” - obscurantismo, mas “felizmente há luar” - luta contra a opressão do regime absolutista - perseguições dos agentes de Beresford - as denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas e sem escrúpulos, denunciam - censura - severa repressão dos conspiradores - processos sumários e pena de morte - execução do General Gomes Freire:


Tempo da escrita;


Agitação social;


Regime ditatorial de Salazar;


Maior desigualdade entre abastados e pobres;


Povo reprimido e explorado;


Miséria medo e analfabetismo;


Perseguições da PIDE;


Denuncias dos chamados “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar;


Censura a empresa;


Prisão e duras medidas de repressão;


Condenação em processos sem provas;


Assassinato do general Humberto Delgado.










William Carr Beresford


Nasce a 2 de Outubro de 1768 e acaba por falecer a 8 de Janeiro de 1854 em Bedgebury (Inglaterra); no dia 7 de Março de 1809, Beresford é nomeado generalismo do exército português, entrando imediatamente em funções e instalando-se com o seu Estado-Maior no palacete do Calhariz, de onde saíram todas as ordens que contribuíram para organizar o desmantelado exército.


Filho ilegítimo do Conde de Tyrone, futuro Marquês de Waterford, frequentou a academia militar de Estrasburgo e em Agosto de 1785 foi aceite como cadete no 6º Regimento de Infantaria. Em 1793 era capitão, servindo com a Frota britânica do Mediterrâneo, tendo-se notabilizado na ocupação da Córsega. Em 1794 era tenente-coronel, servindo na Índia a partir de 1799. Em 1801 participou na campanha do Egipto, comandando o seu regimento que pertencia ao contingente enviado da Índia.






Em 1806, participou, com o posto de Brigadeiro, na captura do Cabo da Boa Esperança, colónia holandesa, e mais tarde, ocupou a cidade de Buenos Aires (27 de Julho). O levantamento da população da colónia espanhola em Agosto obrigou-o à capitulação, tendo sido feito prisioneiro. Após seis meses mais tarde consegue fugir, regressando a Inglaterra. Em finais de 1807, devido à invasão de Portugal pelo exército de Junot, ocupou a ilha da Madeira, sendo promovido a Major-General em Abril de 1808. Foi transferido para o exército que desembarcou em Portugal em Agosto desse ano, chegando a Lisboa, já liberta da ocupação francesa, em Setembro. Mais tarde, comandou uma Brigada do Exército britânico que, sob o comando de John Moore, foi enviado para Espanha, tendo participado na Batalha da Corunha.


Escolhido pelo governo britânico, de acordo com o parecer do general Wellesley, para comandar o Exército português, foi-lhe atribuído o posto de Marechal do Exército. A sua missão, ao contrário do que se afirma, não foi tanto a de reorganizar o exército, mas sim a de compatibilizar a organização e a táctica existentes no exército português com a britânica, permitindo uma actuação conjunta no campo de batalha. É mais tarde que os seus poderes serão alargados, por meio da Carta Régia, que lhe permitirá propor mudanças na estrutura do exército, assim como das Milícias e das Ordenanças, sem que estas tenham de passar pelo Conselho de Regência, e pelo crivo de D. Miguel Pereira Forjaz.


General com poucas qualidades para o comando em campanha, as suas falhas neste aspecto são conhecidas, sobretudo o seu incompetente posicionamento das forças aliadas na preparação da Batalha de Albuera em 1811; batalha que ganhou devido à iniciativa individual dos seus subordinados. Mas já durante a campanha de 1809 contra Soult tinha mostrado dificuldade em tirar partido de uma situação favorável, ao não apoiar convenientemente o general Silveira, na luta que este travava contra o exército de Soult em retirada. Depois de Albuera, nunca mais terá um comando independente, só voltando a dirigir tropas em 1814, durante a invasão do sul de França, mas sempre sob o comando directo e preocupado de Wellington.


Com o fim da guerra em 1814 mantêm-se no comando do Exército português. Devido ao regresso de Napoleão a França em 1815, tenta organizar uma força expedicionária para se reunir ao exército britânico nos Países Baixos, que se preparava para invadir a França, não conseguindo os seus intentos devido à oposição da Regência. Viaja para o Brasil onde consegue do Rei poderes mais alargados, sendo feito Marechal-General, o título usado anteriormente pelo Barão Conde, pelo Conde de Lippe, pelo Duque de Lafões e pelo Duque de Wellington. Devido à Revolução de 1820, é demitido das suas funções, não lhe sendo permitido desembarcar em Portugal, quando chegou a Lisboa em Outubro vindo do Brasil.


Acaba por regressar a Portugal em 1826, mas pretensão de voltar ao comando do Exército não foi aceite.










Gomes Freire de Andrade






Gomes freire de Andrade nasceu a 27 de Janeiro de 1757,em Viena – e falece a 18 de Outubro de 1817, em Forte de São Julião da Barra (foi um general português);


Era filho de António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, embaixador de Portugal na corte austríaca, e da condessa von Schaffgotsch, vinda de uma antiga e ilustre família nobre da Boêmia.


Teve uma educação que se costumava dar aos filhos da nobreza. O seu pai foi um óptimo colaborador do marquês de pombal na campanha contra a companhia de Jesus, sendo o filho Gomes Freire enviado para Portugal com 24 anos de idade, em Fevereiro de 1781, já tinha o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, nesta altura já ele estava destinado à carreira militar, assentou a praça de cadete no regime de Peniche, sendo em 1782 promovido a alferes. Passou a Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas de Carlos terceiro no bombardeamento de Argel.


Regressou a Lisboa em Setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, volta ao antigo regime no posto sargento-mor em Abril de 1788 – conseguiu licença para puder servir no exército de Catarina segunda, estando m guerra com a Turquia parte então para a Rússia. Na campanha de 1788-1789, que é comandada pelo príncipe Potemkin, distinguiu-se nas planícies do rio Danúbio, na Guerra da Criméia e sobretudo no cerco de Oczakow, alegamento foi primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788 depois de o cerco ter-se prolongado. Depois, na esquadra do príncipe de Nassau, salva-se milagrosamente durante a batalha naval; perdeu-se toda a tripulação, mas Gomes Freire conseguiu escapar-se são e salvo.






Regressa a Lisboa e é nomeado Coronel do regime do marquês das minas quase de partida para Catalunha, na divisão que Portugal enviava auxiliar a Espanha contra a República francesa e a que chegou em 11 de Novembro de 1793.


Mas apesar das vitórias do exército hispano-português sobre os republicanos da convenção, a guerra do roussillon ia-se tornar armadilha, os espanhóis tinham 18 mil feridos em hospitais e os portugueses mil homens fora de combate, enquanto os franceses recebiam constantes reforços. Em 29 de Abril de 1794 o general Dugommier atacou a esquadra do exército espanhol, composta de corpos da divisão portuguesa, que sustentou o fogo do romper da manhã às 14h, salvando o exército espanhol.






De regresso a Portugal, veio a integrar a “Legião Portuguesa” criada por Junot e que, sob o comando do marquês de Alorna, partiu para França em Abril de 1808, onde vem a ser recebida por Napoleão Bonaparte no dia 1 de Junho. E participou na campanha da Rússia.










António de Oliveira Salazar






António de Oliveira Salazar nasceu a 28 de Abril em 1889, no vimieiro, conselho de santa Comba Dão e acaba por falecer em 27 de Julho de 1970,tendo sido enterrado no cemitério da sua terra natal. Descendente de uma família de pequenos proprietários agrícolas – filho de António Salazar Oliveira e Maria do Resgate, trabalhadores rurais.


A sua educação foi fortemente marcada pelo catolicismo, e chegou a frequentar um seminário. Mais tarde estudou na Universidade de Coimbra, onde tornou-se docente de Economia política. Durante a 1ª República, Salazar começou a sua carreira política como deputado católico para o parlamento Republicano em 1921.


Já em plena ditadura militar, Salazar foi nomeado para Ministro das finanças, cargo que foi exercido apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido delegados todos os poderes que exigia. Quando Óscar Carmona chegou a presidente da República, Salazar regressou a pasta das finanças, com todas as condições exigidas.


O sucesso obtido na pasta das finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo. Em 1933, com a aprovação da nova constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.


O declínio do império salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par do surto de emigração e de um crescimento capitalista de difícil controlo. É afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello Caetano. Acaba por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.










Luís de Sttau Monteiro






Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro Nasceu no dia 03/04/1926 em Lisboa e faleceu no dia 23/07/1993 na mesma cidade (foi um escritor português). Com dez anos de idade partiu para Londres com o pai, que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressou a Portugal em 1943, quando o pai é demitido do cargo por Salazar. Licenciou-se em Direito, que exerceu por um curto período de tempo, dedicando-se depois ao jornalismo. A sua estadia em Inglaterra, durante a juventude, pô-lo em contacto com alguns movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica. Na sua obra narrativa retrata ironicamente certos estratos da burguesia lisboeta e aspectos da sociedade portuguesa sua contemporânea.


Foi preso em 1967 pela PIDE após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Adaptou ao teatro o romance, de Eça de Queirós, A Relíquia. Escreveu o romance inédito Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título Chuva na Areia. Obras: Ficção: Um Homem não Chora (romance, 1960), Angústia para o Jantar (romance, 1961), E se for Rapariga Chama-se Custódia (novela, 1966). Teatro: Felizmente Há Luar (1961), Todos os Anos, pela Primavera (1963), Auto da Barca do Motor fora da Borda (1966), A Guerra Santa (1967), A Estátua (1967), As Mãos de Abraão Zacut (1968).

sábado, 8 de maio de 2010

Felizmente Há Luar!

A peça Felizmente Há Luar! representada pela primeira vez em 1969, em Paris, só chegaria aos palcos portugueses em 1978, no Teatro Nacional, encenada pelo próprio autor. Sttau Monteiro ao recorrer da caracterização e linguagem das personagens, às notas à margem do texto e aos elementos de luz e de som, pretende que o leitor/espectador, pela análise crítica da sociedade do século XIX, reflectisse sobre a situação política e social do Estado Novo no século XX. Interpretando as condições históricas que anos mais tarde contribuiriam para a "Revolução dos Cravos", a 25 de Abril de 1974. A agitação e a conspiração de 1817, em vez de desaparecerem com medo dos opressores, permitiram o triunfo do liberalismo em 1834, após uma guerra civil. Também as revoltas e oposição ao regime nos anos 60, de que foi exemplo a candidatura do General Humberto Delgado (em 1958), o assalto ao "Santa Maria" e a Revolta de Beja (1961), em vez de serem uma cedência perante a ameaça e a mordaça, fortaleceram a resistência que levou à implantação da democracia.
Para além da biografia de Luís Sttau Monteiro é útil termos presente assuntos que servem de base ao momento de reflexão que o autor pretende originar. Assim, este blog propõe ser mais uma ferramenta que contenha informação útil sobre temáticas importantes que a peça Felizmente Há Luar! aborda.
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Luís de Sttau Monteiro
Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro, nasceu em Lisboa, a 3 de Abril de 1926 a 23 de Julho de 1993, foi um escritor português.
Partiu para Londres com dez anos de idade, juntamente com o seu pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressou a Portugal em 1943, momento em que seu pai foi demitido do seu cargo por Salazar.
Luís Monteiro licenciou-se em Direito, mas exerceu por pouco tempo, dedicando-se ao jornalismo. Na sua juventude esteve em Inglaterra, onde teve contacto com alguns movimentos de vanguarda da literatura anglo-LuisSttauMonteiro_e1saxónica.
Em 1960, estreou-se com “Um Homem não chora”, em 1961 apresentou “Angústia para o jantar”, obra que revela alguma influência de escritores ingleses e em 1966, apresentou “E se for rapariga chama-se Custódia”. Mas foi como dramaturgo que se consagrou, com a obra “Felizmente há Luar”, em 1961. Foi uma peça que sob a influência do teatro de Brecht e recuperando acontecimentos da anterior história portuguesa, procurava fazer uma denúncia da situação sua contemporânea. Esta peça foi distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Mas 1978 voltou a ser representada, no Teatro Nacional.
Luís Monteiro, em 1967, foi presa pela PIDE, após a publicação das peças de teatro “A Guerra Santa” e “A Estátua”, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós, “A Relíquia”, representada no Teatro Maria Matos. Escreveu o romance inédito “Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982, com o titulo “Chuva na Areia”.


Invasões Francesas
Nos primeiros anos do século XIX, grande parte da Europa estava sob o domínio de Napoleão Bonaparte, que se tinha tornado Imperador Francês, em 1804.
O único obstáculo à consolidação de seu Império na Europa era a Inglaterra, que, favorecida por sua posição geográfica, por seu poderio económico e por sua hegemonia naval, não conseguiria conquistar.
Para tentar enfraquecer a economia inglesa, Napoleão decretou o encerramento dos portos de todos os países europeus ao comércio inglês.
O decreto, datado de 21 de Novembro de 1806, dependia, para sua real eficácia, de que todos os países da Europa aderissem à ideia e, para isso, era essencial a adesão dos portos localizados nos extremos do Continente, ou seja, os do Império Russo e os da Península Ibérica, especialmente os de Portugal.
Contudo era difícil a Portugal tomar uma posição, não só contra um velho aliado, mas porque uma numerosa colónia inglesa contribuía para o desenvolvimento económico do país. Napoleão vendo que Portugal não se decidia, resolve concertar com a Espanha um plano de invasão a Portugal, e negociando com Godoy, aparece o célebre Tratado de Fontainebleau, pelo qual se partilhava o reino português entre a França e a Espanha, uma vez conquistado.
Desta forma surgem três invasões:

- Primeira Invasão Francesa
Em Novembro de 1807, o general Junot entrava em Lisboa, e após os infortúnios que passaram durante a viagem, deparou com uma regência assegurada por cinco pessoas presidida pelo marquês de Abrantes. A regência foi automaticamente dissolvida. O país passou então a ser governado como um território conquistado, e foi assolado por actos de violência e roubos perpetrados pelos cerca de 50 mil soldados franceses e espanhóis espalhados pelo país.
O exército nacional foi reconvertido numa espécie de legião lusitana ao serviço do exército francês, a qual, sempre que solicitada, seguia para lutar em vários pontos da Europa.
A resistência do povo português contra o invasor não se fez esperar. Em Junho de 1808, no Norte do país foi aclamado o príncipe regente e foi estabelecida uma Junta Provisória, comandada pelo bispo do Porto. No resto do país multiplicavam-se os actos rebeldes, sobretudo a partir do momento em que as tropas espanholas se retiraram, na sequência de insurreições contra os franceses em Espanha.
Os ingleses foram estimulados por este movimento popular e, chefiados por sir Arthur Wellesley, o futuro Lord Wellington, chegaram ao nosso país em Junho desse ano. Mais tarde, o contingente inglês foi engrossado com o envio de mais tropas que, aliadas às portuguesas, derrotaram os franceses na Estremadura, nas batalhas da Roliça e do Vimeiro. Face a estas derrotas, o general francês foi forçado a pedir um armistício e em Setembro os exércitos de Junot partiam para França.
A regência assumiu de novo o governo da nação agora sob o comando do marquês das Minas. A primeira preocupação deste governo, após a restauração da ordem, foi a preparação para um muito provável novo ataque francês. A resistência foi liderada pelo general inglês William Beresford, nomeado depois marechal. Este tomou o poder do país, que exerceu quase até 1820.

- Segunda Invasão Francesa
Em Fevereiro de 1809 o marechal Soult, duque da Dalmácia, deu início à segunda invasão francesa.
A entrada das tropas francesas deu-se por Trás-os-Montes, o que permitiu a conquista da Região Norte do país até à fronteira do Douro e satisfazer o sonho de Soult de governar a Lusitânia setentrional, uma das regiões negociadas no acordo de Fontainebleau, antes de Portugal ser invadido pelas tropas napoleónicas e espanholas. Este sonho do general Soult, a par do megalómano sonho de Napoleão de reconstruir um império, durou pouco tempo. Rapidamente as forças anglo-portuguesas combinaram esforços e conseguiram empurrar, de novo, o Exército francês para Espanha, em Maio de 1809. Nesta invasão, ficou tristemente célebre o episódio da "ponte das barcas", um desastre que provocou um grande número de mortos entre as populações, que, aterrorizadas pela chegada do invasor, procuraram refúgio na cidade do Porto, atravessando a velha ponte das barcas, que não suportou o peso de tanta gente.

- Terceira Invasão Francesa
Lord Wellington preparou novamente a defesa portuguesa, desta feita de Lisboa, contra um terceiro ataque francês, que se previa para o Outono de 1809. A capital do reino foi protegida por três linhas fortificadas, sendo a linha defensiva mais imponente a de Torres Vedras, a cerca de 40 km. Trata-se das célebres "linhas de Torres" (fortificações planeadas pelo major José Maria das Neves Costa), que permaneceram na toponímia da região. Este plano defensivo tornava quase impossível a entrada em Lisboa. De facto, quando o exército francês, comandado pelo prestigiado marechal Masséna e onde se destacava também o general Ney, entrou em Portugal, em Junho de 1810, naquela que seria a última invasão francesa, foi travado em Torres Novas, logo depois de ter sido vencido no Buçaco. Durante cinco meses, os dois exércitos mediram as suas forças; o exército francês esperava pelo envio de reforços, enquanto que o exército britânico contava com a exaustão dos franceses.
Em Março de 1811 os franceses não esperaram mais pelo reforço e deram início à sua retirada de Portugal. Beresford, o marechal inglês, derrotou-os mais uma vez em Redinha. A fronteira foi passada em Outubro; em Espanha os franceses foram empurrados para Toulouse pela pressão do exército britânico, que contava com o auxílio de soldados portugueses e espanhóis.
A independência de Portugal foi retomada entre 1814 e 1815, pelo Congresso de Viena, que decidiu igualmente restituir Olivença a Portugal, determinação que todavia nunca foi cumprida por Madrid.

Regência Inglesa (1807—1820)
Depois da invasão sem oposição de Junot, general de Napoleão, a família real portuguesa, a corte e as mais altas magistraturas e funcionários superiores da nação abandonam o País em direcção ao Brasil, onde se fixam ao todo mais de 10 000 pessoas. O País fica desprovido dos quadros do seu aparelho administrativo. Em 1808, dá-se o desembarque inglês na Figueira e consequente expulsão dos franceses. Mas não é só aqui que nasce a dominação inglesa: os navios que levaram a comitiva real para o Brasil eram ingleses. Em 1808, com a chegada dos ingleses na Figueira os franceses são expulsos. Com isso e o transporte da comitiva Real para o Brasil nasce a dominação inglesa.
O Tratado de Amizade e Aliança e um outro, de Navegação e Comércio, serão assinados em 1810 no Rio de Janeiro. Protegia-se a família real e a Casa de Bragança, consagrava-se a reciprocidade mas também se estendiam os privilégios comerciais ingleses, não só ao Brasil, mas a todas as colónias lusas. Nas invasões de 1809 e 1810, os ingleses mantêm-se no nosso país, organizando a defesa militar com brilho mas cometendo já abusos de autoridade e arbitrariedades inqualificáveis. A situação do País depois das invasões francesas era deplorável, com miséria, devastação, abandono dos campos, mutilados, 10 000 mortos, famílias desfeitas, o tecido produtivo destruído, apenas o vinho do Porto, monopólio inglês, conhecia progressos.
Sem qualquer tipo de opinião ou autoridade das chefias portuguesas, completamente dominadas pelos militares ingleses, instalados nos mais altos cargos - para além do controlo económico do País - desde 1809, quando o comando do exército português (única força real do País) é atribuído, com plenos poderes, ao general Beresford (eleito depois marechal), coadjuvado por compatriotas. Gozava, por isso, de poderes semelhantes aos de um vice-rei, quase soberanos e de direcção absoluta. Impunha medidas repressivas até, não poupando os quadros superiores do exército nacional, ao ponto de ter ordenado a execução, em 1817, do general Gomes Freire de Andrade, ilustre figura portuguesa, e de outros sob a acusação de franco-maçonaria e tentativa de conspiração, num clima anti-liberal. O ódio aos ingleses crescia, aliás como a miséria e a sensação de abandono da população. O País encontrava-se em estado de mobilização permanente, absorvendo o exército quase todas as receitas públicas, substituindo os órgãos centrais de poder ausentes.
Apesar da decadência de Portugal em 1820 os poderes de Beresford são ampliados quando visita a família real no Rio, até que, em 24 de Agosto do mesmo ano, uma sublevação militar iniciada no Porto, apoiada pelo Sinédrio e implantada no País, não deixa o regente militar inglês desembarcar em Portugal, obrigando-o a rumar a Inglaterra. Instaura-se o liberalismo em Portugal, fazendo-se entretanto regressar a família real. O domínio inglês do País terminou, nos moldes em que se vinha verificando, apesar de economicamente continuar enraizado.




William Carr Beresford
William Carr Beresford nasceu em 1768, na Irlanda e faleceu a 8 de Janeiro de 1854. Foi um militar britânico. Frequentou a academia militar de Estrasburgo.William_Carr_Beresford
Em Agosto de 1785 foi aceite como cadete no 6º Regimento de Infantaria. Em 1793 foi capitão, serviu a frota britânica do Mediterrâneo, tendo-se mobilizado na ocupação da Córsega. Foi tenente – coronel na Índia, coronel do 88º Regimento no Egipto, em 1801, brigadeiro no Cabo da Boa Esperança e ocupou, em 1807, Buenos Aires, onde foi preso. Em Dezembro de 1807, comandou a ocupação da Madeira, tendo sido promovido a Major – General, em 1808.
Em Portugal, recebeu o título de Campo Maior, em 1812 e Conde de Trancoso, e Viscoso de Beresford na Grã – Bretanha.
Beresford era de grande estatura, a sua presença era realçada por um rosto irregular e aparência sinistra, porque tinha o olho esquerdo derramado por um tiro.
Foi nomeado Marechal do Exercito, em Março de 1809, pelo conselho de regência, Beresford aproveitou a reorganização das forças militares criada por D. Miguel Pereira Forjaz, para a adaptar ao serviço de campanha do exército britânico.
Encontrou o exército diminuído pela ausência dos comandos no Brasil e na Legião Portuguesa e pela velhice de muitos oficiais, então recorreu à atribuição de comandos a oficiais britânicos, tendo poderes para nomear e demitir os sujeitos. Criou também os depósitos de recrutamento em Peniche, Mafra e Salvaterra, dirigiu à distribuição das novas armas e equipamentos, introduziu Ordens do Dia para informar o exército e apurar a disciplina.
Foi um activo administrador. Era muito bravo, destacando-se em Albuera onde teve de combater com um armeiro polaco sendo depois ajudado por um cavaleiro português. Em Salamanca comandou pessoalmente o ataque da 3ª Brigada portuguesa que imobilizou o contra-ataque francês, ficando gravemente ferido.
Em 1815, era elogiado pela população, que o reconhecia como o artífice da vitória, mas a sua carreira, após o fim da guerra, apagou.
Em 1817, após a execução de Gomes Freire de Andrade, deslocou-se ao Brasil para pedir poderes ainda maiores do que tinha. Havia pretendido suspender a execução da sentença até que fosse confirmada pelo supremo mas a Regência ordenou na mesma a execução e reduziu-lhe as funções ao administrativo.
A 2 de Maio de 1820 o marechal partiu, trataram os governadores do reino de estabelecer o mais cauteloso sistema de repressão. Portugal fechou ao mundo, e deixou-se a Regência ficar desaparecida dos riscos que sobrevinham. No Porto levantaram-se contra a Regência e ali se fundara o Sinédrio (é o nome dado à assembleia de 23 juízes que a Lei judaica ordena existir em cada cidade), onde Fernandez Tomaz e Silva Carvalho reuniram ao redor de si outros chefes. E pela madrugada de 24 de Agosto deu-se a revolução.
A 10 de Outubro, Beresford regressou a Lisboa, mas foi impedido de desembarcar e assim regressou à Grã – Bretanha. Mas ainda esteve em Portugal em 1823, procurando abater D. João VI às tentativas absolutistas de D. Miguel. Em 1826, regressou a Portugal, com a intenção de regressar ao comando do exército, mas não foi aceite. Entre 1828 a 1830, foi membro do primeiro governo de Wellington, com o título de Master General of Ordnance, equivalente ao posto de militar de Director do Arsenal.
Beresford contribuiu para as obras Strictures on Napier’s History e Further Strictures, escritas por Benjamin D'Urban, refutações da História da Guerra Peninsular de William Napier, que confirmam o respeito pelo exército português, que comandou durante onze anos.


Gomes Freire de Andrade
Gomes Freire de Andrade foi um general português. Nascido em Viena, a 27 de Janeiro de 1957 e faleceu a 18 de Outubro de 1817, em Forte de São Julião da Barra. Filho de António Ambrósio Freire de Andrade e Castro, embaixador de Portugal na corte austríaca e da condessa Von Schaffgotsch.Gomes_Freire_Andrade
Gomes Freire foi enviado para Portugal, em Fevereiro de 1781, com um grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Ficou destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo promovido a alferes, em 1782. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na enquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas de Carlos III no bombardeamento de Argel. No mesmo ano foi promovido a tenente do mar da Armada Real, e em 1788 voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo terá conquistado as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz.
Gomes de Andrade, entre 1788 e 1789 ter-se-á distinguido nas planícies do rio Danúbio, na Guerra da Criméia, foi alegadamente o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788 depois do cerco prolongado. Nas condecorações esqueceram-se dele, negando-lhe a Comenda de S. Jorge. Mas este protesta e pediu atestados de heroísmo e a imperatriz acede atribuindo-lhe o posto de coronel do seu exército, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português.
Mais tarde a sua tripulação foi atingida por canhões suecos, perdeu-se tudo, Gomes Freire conseguiu-se salvar e acabou por receber o hábito de São Jorge, uma das Ordens mais importantes da Rússia.
Quando voltou a Lisboa foi nomeado coronel do regimento do marquês das Minas. Embarcou na divisão que Portugal enviava para auxiliar Espanha contra a República francesa. O Regimento de Andrade e o de Cascais ocuparam a povoação de Rebós, correndo ás trincheiras onde o exercito espanhol estava a ponto de desistir. A acção do Regimento foi brilhante, mas o desempenho de Gomes Freire foi mau, carregando os franceses com coragem em combate a 26 de Setembro de 1793.
Regressou a Portugal e integrou a “Legião Portuguesa” criado por Junot e que, sobe o comando do marquês de Alorna, partiu para França em Abril de 1808,onde vem a ser recebido por Napoleão Bonaparte no dia 1 de Junho.
Portugal libertou-se da ocupação das tropas francesas, e após a derrota de Napoleão, Andrade volta a Portugal, e vem a ser Grão-mestre da Maçoaria. E é acusado de conspiração contra a monarquia de Dom João VI, em Portugal representada pela Regência, então sob o governo militar britânico do marechal William Carr Beresford. Gomes Freire de Andrade foi detido e enforcado por crime de traição à pátria junto com outras onze pessoas.
Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro, nasceu em Lisboa, a 3 de Abril de 1926 a 23 de Julho de 1993, foi um escritor português.
Partiu para Londres com dez anos de idade, juntamente com o seu pai que exercia as funções de embaixador de Portugal. Regressou a Portugal em 1943, momento em que seu pai foi demitido do seu cargo por Salazar.
Luís Monteiro licenciou-se em Direito, mas exerceu por pouco tempo, dedicando-se ao jornalismo. Na sua juventude esteve em Inglaterra, onde teve contacto com alguns movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica.
Em 1960, estreou-se com “Um Homem não chora”, em 1961 apresentou “Angústia para o jantar”, obra que revela alguma influência de escritores ingleses e em 1966, apresentou “E se for rapariga chama-se Custódia”. Mas foi como dramaturgo que se consagrou, com a obra “Felizmente há Luar”, em 1961. Foi uma peça que sob a influência do teatro de Brecht e recuperando acontecimentos da anterior história portuguesa, procurava fazer uma denúncia da situação sua contemporânea. Esta peça foi distinguida com o Grande Prémio de Teatro, tendo sido proibida pela censura a sua representação. Mas 1978 voltou a ser representada, no Teatro Nacional.
Luís Monteiro, em 1967, foi preso pela PIDE, após a publicação das peças de teatro “A Guerra Santa” e “A Estátua”, sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial. Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós, “A Relíquia”, representada no Teatro Maria Matos. Escreveu o romance inédito “Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982, com o titulo “Chuva na Areia”.

António de Oliveira Salazar
António de Oliveira Salazar figura que marcou intensamente a História de Portugal durante grande parte do século XX nasceu a 28 de Abril de 1889 no Vimieiro, uma freguesia de Santa Comba Dão do distrito de Viseu. Era o filho varão de uma pequena família de proprietários agrícolas e o único rapaz entre quatro irmãs.
À imagem do Portugal rural do seu tempo, foi educado num meio católico muito marcado, manifestando-se ao frequentar o seminário de Viseu e numa profunda devoção religiosa que iria marcar toda a sua governação.
Após a conclusão dos estudos em Viseu, o jovem Salazar em 1910 muda-se para estudar Direito, na Universidade de Coimbra. É nesta fase que ganha alguma notoriedade através do Centro Académico de Democracia Cristã e conhece Manuel Gonçalves Cerejeira que viria a ser Cardeal Patriarca de Lisboa e um grande amigo de Salazar.
Em 1917 aceita a regência da cadeira de Economia Política e Finanças e os seus ideais políticos depressa se fizeram conhecer.salazar1
A Primeira República atravessava dificuldades e Salazar admitia que o problema português resultava da carência de três elementos: competência, valores e direcção. O seu nome, depois da 1ª Guerra Mundial, tornou-se conhecido, tanto pela sua competência como professor, como pelas suas opiniões sobre a necessidade de habilitação de quadros administrativos, fortalecendo e qualificando o Estado, sem prejudicar a sua dependência pela moral e pela lei. Quando a 28 de Maio de 1926 se deu a revolta que instaurou a Ditadura Militar, Salazar foi chamado para encabeçar a pasta das Finanças. Impôs, então, que se instala-se como que uma “ditadura” do Ministério das Finanças sobre as despesas do Estado, colocando em cheque os seus movimentos. Quando mais tarde um novo governo, tutelado por Vicente de Freitas, se constituiu, Salazar assumiu de novo a pasta das Finanças. As suas exigências eram radicais: cada ministério organizava os seus serviços dentro das verbas que o ministério das Finanças lhe atribuía. Para Oliveira Salazar, os problemas do País eram, numa ordem orientada, o financeiro, o económico, o social e o político. Desta forma o equilíbrio financeiro aumentaria a estabilidade da moeda, estimularia a produção, criando, então, condições para a resolução das questões sociais e políticas.
Depressa as suas medidas se revelariam eficazes. Estabilizado o orçamento, reduzida a dívida pública, refeito o sistema tributário, reformadas as pautas e reorganizado o crédito, ficou ainda, o problema político.
Como solução em 1930, enunciava os princípios fundamentais da reforma política e a nova constituição corporativa, colocando de parte o individualismo, o socialismo e o parlamentarismo. Colocava em destaque a doutrina social da Igreja, a importância do poder executivo e a concepção de um Estado forte, embora subordinado à moral e ao direito. Foi à volta destes ideais que formou a União Nacional.
Defensor do corporativismo, da autoridade suprema do Estado, da tradição e dos bons costumes, recusa, por sua vez, o socialismo, o parlamentarismo, a democracia, considerando que os valores e os ideais de cada indivíduo são um obstáculo para o progresso do país. Determinado apressa-se a criar a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), regulamenta o exercício da liberdade de associação e manifestação, reorganiza a censura e lança um grande e definitivo ataque à liberdade sindical.
A nível nacional, mantinha-se à sua volta, uma oposição intransigente republicana democrática, socialista, comunista, sindicalista; a nível internacional, situações contraditórias aconteciam como a subida de Hitler ao poder e a eleição de Roosevelt, originando um tempo de receio de mudanças políticas. Foi esta situação que aumentou o número de apoiantes e diminuiu a força dos seus opositores: Salazar torna-se Presidente do Conselho em 1932, equivalente aos dias de hoje a Primeiro-Ministro, aprovando a Constituição de 1933, logo seguido do Estatuto do Trabalho (1933). Inicia-se, então, o Estado Novo.
O auge da oposição a Salazar concretizou-se com a candidatura do General Humberto Delgado; entretanto, enquanto a oposição activa se transferia para o estrangeiro, realçou-se uma debilidade relativamente à questão colonial, depois do despoletar de revoltas em Angola, Moçambique e Guiné.
Determinou, então, que era necessário para o país a defesa desse Ultramar, considerado essencial para o povo português e para a sua glorificação.
Em 1968, caiu da sua cadeira e teve um acidente cerebral, Américo Tomás chama, então, ao governo Marcello Caetano, que dará início a um novo período do regime. Salazar sobrevirá ainda dois anos à sua morte política, mas ninguém terá tido coragem de lhe dizer que já não chefiava o Governo. Morreu assim iludido, um homem que tendo derrubado muitos caiu sozinho. Figura muito polémica da nossa História, e que por isso ainda hoje desperta paixões e juízos variados, Salazar foi sem dúvida um homem inteligente e de vincada vontade, que fugia ao contacto das multidões e odiava a desordem, e que, à sua maneira, se dedicou totalmente à sua pátria, sem nunca se ter casado, e tendo apenas por uma vez visitado o estrangeiro.

Fontes:
- www.wikipedia.org
- www.infopedia.pt
- www.google.com
- "Pequeno Dicionário de História de Portugal"


TABELA CRONOLÓGICA
  • 1757 - Nasce o General Gomes Freire de Andrade
  • 1768 - Nasce William Carr Beresford
  • 1807 - Primeira invasão Francesa (Junot)
  • 1809 - Segunda invasão Francesa (Soult)
  • 1810 - Terceira invasão Francesa (Massena)
  • 1811 – Retirada Francesa
  • 1817 – Execução do General Gomes Freire de Andrade
  • 1854 - Morre William Carr Beresford
  • 1889 - Nasce António de Oliveira Salazar
  • 1926 - Nasce Luís de Sttau Monteiro
  • 1933 – Regime do Estado Novo
  • 1965 – Assassinato de Humberto Delgado
  • 1968 – Tomada de posse de Marcello Caetano
  • 1970 - Morre António de Oliveira Salazar
  • 1974 – Revolução de Abril
  • 1993 - Morre Luis de Sttau Monteiro