Felizmente há luar!

Ponto de encontro de saberes e dúvidas, local de partilha de informação.


terça-feira, 1 de junho de 2010

Memorial do Convento - Acção

Resumo da acção

A história de “ Memorial do Convento” pode dividir-se em duas vertentes, por um lado refere factos históricos na época da construção do mosteiro de Mafra por D. João V, por outro adopta a criação do enredo com Baltazar sete-luas e Blimunda sete-sóis na construção de um engenho voador. No primeiro tema trata-se de relatar episódios referentes a esse período histórico, ironizando e criticando esses mesmos episódios, referentes à construção do mosteiro de Mafra, que D. João V acaba por oferecer ao Clero, de forma a cair nas boas graças de Deus para que sua esposa lhe dê um herdeiro. A construção fica marcada pela utilização do povo oprimido, fazendo inúmeras vítimas na colocação da grande pedra para o pórtico. E pelo esforço financeiro do país onde se viria a gastar grandes fortunas em materiais e em técnicos de construção. José Saramago satiriza e ridiculariza então estes acontecimentos, pondo a claro, e denunciando a utilização deste povo oprimido pela elite e clero da altura. No que diz respeito à outra história que se vai entrelaçando ao longo da obra, trata-se basicamente de uma história de amor entre Baltazar sete-luas e Blimunda sete-sóis, humildes elementos do povo, que se unem ao Padre Bartolomeu no seu sonho de voar. Esta história tem implícita uma metáfora de liberdade, já que o engenho de seu nome “Passarola” que querem construir funciona com as derradeiras vontades dos moribundos como combustível. Blimunda que tem o dom de ver as pessoas por dentro consegue assim captar essas ultimas vontades, acabando por fazer o engenho funcionar. O Padre acaba sendo perseguido pela inquisição e tem que fugir para Toledo. O engenho fica assim à guarda de Baltazar e Blimunda, que o escondem. Certo dia durante a manutenção do engenho, Baltazar foi experimentá-lo e acaba por não voltar. Blimunda procura-o durante nove anos e acaba por encontrar Baltazar em Lisboa a caminho da fogueira, no momento antes da sua morte a sua vontade é recolhida no peito da sua amada.

Acção principal e secundária

A análise de Memorial do Convento permite constatar a existência de duas narrativas simultâneas: uma de carácter histórico e outra de ficção.
A acção principal é a edificação do convento de Mafra – desejo e promessa de D. João V e a acção secundária é a história de amor entre Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis; a construção da passarola (sonho de Bartolomeu de Gusmão).
Na acção principal encaixam-se outras acções, constituindo diferentes linhas de acção que se articulam com a primeira.

1ª. Linha de acção – a do rei D. João V
Abrange todas as personagens da família real e relaciona-se com a segunda linha de acção, uma vez que a promessa do rei é que vai possibilitar a construção do convento. Esta linha tem como espaço principal a corte e, depois, o convento, na altura da sua inauguração, no dia do aniversário do rei.

2ª. Linha de acção – a dos construtores do convento
Esta é a linha da acção principal da história, a par da quarta, a que respeita á construção da passarola. Esta segunda linha de acção vai ganhando relevo e une a primeira à terceira: se o convento é obra e promessa do rei, é ao sacrifício dos, aqui representados por Baltasar e Blimunda, que ela se deve.
Honram-se aqui os homens que se sacrificam, passam por dificuldades, mas que também as vencem.

3º. Linha de acção – a de Baltasar e Blimunda
Nesta linha relata-se uma história de amor e o modo de vida dos portugueses. Baltasar e Blimunda são os construtores da passarola; Baltasar é também, depois o construtor do convento, constituindo-se como paradigma da força que faz mover Portugal, a do povo.

4ª. Linha de acção – a de Bartolomeu Lourenço
Relaciona-se com o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora. Articula-se com a primeira e segunda linhas de acção, porque o padre é mediador entre a corte e o povo. Também se enquadra na terceira linha, dado que a construção da passarola resulta da força das vontades que Blimunda tem de recolher para que a passarola voe.

Verifica-se a existência de um plano de ficção que se cruza com a História, uma vez que a construção da passarola, evento a que a História se refere, acaba por ser ficção quando se afirma que se moverá pela força das “vontades” que Blimunda recolhe.
A construção da passarola é o fio condutor de toda a narrativa pois consegue-se observar quase todos os passos, e até partilhar do entusiasmo das personagens, enquanto que da construção do convento só se sabe as fases da construção. Parece, até, que só a partir do décimo sétimo capítulo é que a passarola cede lugar ao convento. Na realidade, é a construção da máquina que conduz a narrativa e é ela que materializa o sonho dos seus construtores e lhes vai permitir a fuga de um mundo dominado pela injustiça e pela prepotência que caracteriza a política vigente.

Modos de organização

As sequências narrativas, que fazem parte da acção, podem surgir articuladas de três maneiras diferentes:

• Encadeamento: por exemplo, o desenrolar da relação amorosa entre Blimunda e Baltasar, a partir do momento em que se conhecem no auto-de-fé, onde a mãe de Blimunda é condenada, até ao reencontro do casal no final da acção, na altura em que Baltasar está a ser queimado na fogueira da Inquisição.

• Encaixe: por exemplo, as histórias de vida que Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-tempo e Baltasar Mateus contam uns aos outros (Cap. XVIII), quando estes se encontram longe dos seus lares a trabalhar na construção do convento.

• Alternância: por exemplo, a história de Manuel Milho sobre uma rainha e um ermitão (Cap. XIX) é contada por partes, à noite, dando lugar à narração de outros eventos.

Fontes: Manual de Português – INTERACÇÕES – Texto Editores
www.resumos.net

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.