Memorial do Convento
Tempo
Tempo Histórico:
Em Memorial do Convento, de José Saramago, publicado em 1982, a acção decorre no início do século XVIII, durante o reinado de D.JoãoV e da Inquisição. Este rei absolutista gozou da enorme quantidade de ouro e de diamantes vindos do Brasil e mandou construir o magnífico Palácio Nacional de Mafra, mais conhecido por Convento, em resultado de uma promessa que fez para garantir a sucessão do trono.
Através da íntima relação entre o que é fictício e o que é histórico, o romance critica a exploração dos pobres pelos ricos – que origina guerra entre os indivíduos – e a corrupção pertencente à natureza humana – com especial foco à corrupção religiosa.
Tempo da Narração:
O tempo narrativo resulta da articulação do tempo da história e do tempo do discurso.
Na narração da obra a acção data entre 1711 a 1739 (29 anos): inicia com a apresentação do rei e termina com o último auto-de-fé em Portugal, em que Baltasar morre.
Tempo do discurso:
O modo como influencia a cronologia da acção (tempo da narração) e na maior parte do romance linear, tendo porém algumas analepses e prolepses, utilizada por exemplo para narrar a morte do sobrinho de Baltasar e do Infante D. Pedro e a elipse, utilizada na discrição do período em que Blimunda procurou Baltasar durante nove anos; e ainda a presença do narrador através dos seus comentários, juízos críticos, registos de língua e referências ao século XX.
Prolepses: O narrador heterodiegético e omnisciente, apesar de respeitar a cronologia e a datação de eventos históricos tratados no romance (sagração do convento, casamento dos príncipes) recorre a diversas prolepses, quer para anunciar acontecimentos futuros, quer para registar a diferença entre o tempo da história e o tempo do discurso, quer para fazer comentários e comparações ente épocas histórias diferentes.
ESPAÇO PSICOLÓGICO
O espaço psicológico diz respeito ao universo interior dos personagens e, nalguns casos, também do narrador – quando este participa da acção narrada e sobre ele reflecte, p.e. Este universo interior consiste no conjunto de todas as manifestações não físicas como pensamentos, emoções, sentimentos, sensações, etc., que no texto são expressas de forma indirecta (através do narrador) ou de forma directa (nos monólogos e diálogos dos próprios personagens).
No caso do Memorial do Convento, o espaço psicológico é sobretudo “habitado” por sonhos, pensamentos e a atmosfera do romance. De seguida, vamos explorar cada um destes três “habitantes”:
Sonhos:
Os sonhos do rei e da rainha contrastam com os das outras personagens, sobretudo porque evidenciam o desamor que marca a relação do casal real: o protagonista da acção D. João V sonha com a sua própria imortalidade, com a descendência e com o convento – este por sua vez é casado com D. Maria Josefa, de Áustria, com a qual tem uma relação de dever conjugal e não de amor; Megalómano, promete construir um convento em Mafra. D. João é um homem excessivo, rico e poderoso – também tem a sua vaidade, é pretensioso, prepotente, representa o poder acromático. Enquanto D. Maria Ana Josefa é atormentada pelo facto de sonhar com o seu cunhado, o infante D. Francisco - É uma beata, devota; é uma mulher carinhosa, preocupada, cumpridora como esposa e como mãe.
Baltasar sonha com Blimunda, com o trabalho, com os animais, a terra, o ar; - Baltasar e Blimunda têm sonhos comuns e, por vezes, sonham em conjunto com o padre Bartolomeu de Gusmão, nomeadamente no que diz respeito à passarola, o que evidencia o profundo envolvimento das três personagens na realização daquela obra, ao contrário da construção do convento, executada à custa do trabalho de milhares para a realização do sonho de um só - D. João V.
- «Baltasar Mateus foi mandado embora do exército por já não ter serventia nele, depois de lhe cortarem a mão esquerda pelo nó do pulso, estraçalhada por uma bala em frente de Jerez de los Caballeros» (p. 35)
Pensamentos
Os pensamentos das personagens revelam o seu mundo interior, os seus desejos, sonhos e ambições.
Atmosfera do romance
A atmosfera do romance é densa e pesada, em virtude da religiosidade opressiva, com traços de fanatismo, imposta pelos clérigos e pelas ordens religiosas que manobram a vida dos lisboetas, os habitantes da corte, os operários que trabalham nas obras do Convento de Mafra. Tudo parece girar em função da motivação religiosa: desde o nascimento da herdeira real, resultado de uma promessa, à construção do convento. A própria rainha vive dominada pelo fanatismo religioso.
Por outro lado, à excepção das touradas, todos os divertimentos e acontecimentos importantes ou são de cariz religioso, ou têm a ver com a Igreja, ou misturam o religioso e o profano (como os festejos que antecedem a procissão do Corpo de Deus), ou ainda a religião e a luxúria (por exemplo, a procissão da penitência e as saídas das mulheres para visitar as igrejas durante a Quaresma). Pairando sobre tudo isto está sempre a mancha negra da Inquisição e os autos-de-fé, para gáudio e elevação espiritual de nobres e plebeus.
O sermão proclamado aquando do transporte da pedra e após a morte de Francisco Marques representa a demagogia exercida pelo clero sobre o povo ignorante.
O lar de Marta Maria e João Francisco distinguem-se desta imagem profundamente negativa da sociedade portuguesa, pela tolerância com que recebem o filho e a nora, que suspeitam não estar casados conforme mandam as leis da Igreja -, não questionando algumas estranhezas que notam em Blimunda, embora essa tolerância não seja tão grande que a aceitassem se ela fosse uma cristã-nova.
Espaço físico
A acção de Memorial do Convento desenrola-se em dois grandes espaços: Lisboa e Mafra, a que se acrescenta o Alentejo, em circunstâncias bem específicas.
Lisboa é um Macroespaço caracterizado, genericamente, como uma cidade com muralhas e com abundância de igrejas ("Lisboa derramava-se para fora das muralhas. Via-se o castelo lá no alto, as torres das igrejas dominando a confusão das casas baixas, a massa indistinta das empenas." - p. 40), o que denuncia o ambiente profundamente religioso e beato que a domina. Por dentro, é descrita como uma cidade suja [" (...) a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos e gatos vadios, e lama mesmo quando não chove." - p. 28].
Enquanto Macroespaço, integra outros espaços:
Mercado de peixe, espaço contrastante com a visão imunda da cidade ("Sete-Sóis atravessou o mercado de peixe. (...) Mas no meio da multidão suja, eram miraculosamente asseadas, como se as não tocasse sequer o cheiro do peixe que removiam às mãos cheias..." - p. 42).
Paço: trata-se de um espaço de que não há grandes descrições, ressaltando apenas as atitudes das personagens que o habitam e os factos que lá têm lugar.
Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. Onde também decorriam as touradas.
Rossio: local onde decorrem os autos-de-fé.
S. Sebastião da Pedreira: espaço isolado onde é construída a passarola. Na época, era um espaço rural, onde existiam várias quintas que integravam palacetes.
Abegoaria: constitui o ninho de amor de Baltasar e Blimunda. Da descrição que o narrador dela faz, podemos inferir a simplicidade da vida e a pobreza do casal ("Num canto da abegoaria desenrolaram a enxerga e a esteira, aos pés dela encostaram o escano, fronteira a arca, como os limites de um novo território, raia traçada no chão e em panos levantada, suspensos estes por um arame para que isto seja de facto uma casa..." - p. 88). Por outro lado, aí se vai construindo a passarola.
O outro espaço é o de Mafra, o segundo macroespaço, pouco descrito. É aí que milhares de homens, em condições infra-humanas, vão construindo, ao longo de décadas, o convento, muitos deles perdendo lá a própria vida ("... o abençoado há-de ir a Mafra também, trabalhará nas obras do convento real e ali morrerá por cair de parede, ou da peste que o tomou, ou da facada que lhe deram, ou esmagado pela estátua de S. Bruno..." - p. 117). Nesta vila, destaca-se outro espaço: o alto da Vela, local escolhido por D. João V para edificar o convento e que deu lugar à chamada vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a Ilha da Madeira, onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, posteriormente, a quarenta mil.
Um terceiro espaço é o Alentejo, um lugar povoado por mendigos e salteadores. Esta zona do reino é percorrida por Baltasar após o seu regresso da Guerra da Sucessão e, mais tarde, pelo cortejo real, que vai de Lisboa a Elvas, por ocasião do casamento dos príncipes D. Maria Bárbara e D. José com os príncipes espanhóis. Nestas ocasiões, realçam-se a miséria e a penúria de quem aí habita, bem como os caminhos de lama e de pobreza.
Outros locais a considerar são Pêro Pinheiro, local de onde é originária a pedra, e a Serra do Barregudo, lugar onde a passarola pousou e esteve escondida e donde partiu para a derradeira e fatal viagem de Baltasar.
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Plano do Trabalho
INTRODUCÃO:
O Memorial do Convento é um dos mais belos romances de José Saramago, o único Nobel da literatura em língua Portuguesa começando pela construção do convento.
No reinado de D. João V, enredam-se, vários romances, o projecto da passarola voadora do padre Bartolomeu de Gusmão, a Inquisição, o amor fantástico de Baltazar e Blimunda.
Por tempo do discurso entende-se aquele que se detecta no próprio texto organizado pelo narrador, através da forma como relata os acontecimentos, as analepses explicam os acontecimentos passados, as prolepses antecipam os acontecimentos.
DESENVOLVIMENTO:
O tempo (histórico, da narração e da escrita).
O espaço – espaços físicos e psicológicos – sua função na economia da obra.
CONCLUSÃO:
O Memorial do Convento é uma obra que todas as pessoas deviam ler é muito interessante.
Fala-nos da época que éramos governados pela monarquia, mesmo nesse tempo aonde tudo era bem controlado já havia histórias de amor, mas também havia muita gente que morria inocente com a aquisição
O. Autor JOSE SARAMAGO escreve com uma lucidez e esta bem para o alcance de todos os leitores.
Também tem algumas histórias de fictícias mas não deixa de ser muito bom.
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