1.Estrutura da obra
A Mensagem divide-se em três partes fundamentais:
1.ª Brasão (nascimento) – Fundação da nacionalidade e presença de heróis lendários e históricos, de Ulisses a D. Sebastião, passando por D. Afonso Henriques e D. Dinis
2.ª Mar Português (realização) – ânsia do desconhecido e luta contra o mar. Apogeu dos portugueses nos Descobrimentos
3.ª O Encoberto (morte) – Morte de Portugal simbolizada no nevoeiro; afirmação do mito sebástico na figura do “Encoberto”; apelo e ânsia da construção do Quinto Império.
Estas três partes conduzem à ideia de renascimento futuro do país.
Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte que será seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como uma ideia completa, de sentido cósmico, e dando-lhe a forma simbólica tripartida – Brasão, Mar Português, O Encoberto. Que se poderá traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realização, ou a vida; o fim das energias latentes, ou a morte; essa terá em si, como gérmen, a próxima ressurreição, o novo ciclo que se anuncia – o Quinto Império. Assim, a terceira parte, é toda ela cheia de avisos, preenche de pressentimentos, de forças latentes prestes a virem á luz: depois da Noite e Tormenta, vem a Calma e a Antemanhã: estes são os Tempos. E aí sempre perpassarão, com um repetido fulgor, sempre a mesma mas em modelações diversas, a nota da esperança: D. Sebastião, O Desejado, O Encoberto.
É dessa forma, o mítico caos, a noite, o abismo, donde surgirá o novo mundo, “Que jaz no abismo sob o mar que se segue”.
2.Temáticas
A Mensagem, cujas poesias componentes foram escritas entre 1913 e 1934 – data da sua publicação, é sem dúvida a obra-prima onde pessoa lapidarmente imprimiu o seu ideal patriótico, sebastianista e regenerador. É um poema nacional, uma versão moderna, espiritualista e profética de Os Lusíadas.
A Mensagem poderá ser vista com uma epopeia. Porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis, só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos. Assim, a sua estrutura tem como objectivo o regresso do paraíso, a realização do impossível, a espera do messias. Os antepassados, os fundadores, que pela sua acção criaram a pátria, e ergueram a personalidade, separada, ou criaram na sua altura própria; mas Mães, as que estão na origem das suas dinastias, cantadas como “Antigo seio vigilante”, ou “humano ventre do império”; os heróis navegantes, aqueles que percorreram o mar em busco do caminho da imortalidade, cumprindo um dever individual e pátrio, finalmente, depois dessa missão cumprida, dessa realização. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes que anunciam já aquele que viria regenerar essa pátria decadente, abrindo-lhe novo ciclo de vida, uma nova era, o Encoberto.
Carácter épico-lírico
A Mensagem é uma obra épico-lírica, pois, como uma epopeia, parte de um núcleo histórico de heróis e acontecimentos da História de Portugal, mas apresenta uma dimensão subjectiva introspectiva, de contemplação interior, característica própria do lirismo.
O mito
As figuras e os acontecimentos históricos são convertidos em símbolos, em mitos, que o poeta exprime liricamente. “O mito é o nada que é tudo”, verso do poema “Ulisses”, é o paradoxo que melhor define essa definição simbólica da matéria histórica da Mensagem.
Sebastianismo
A Mensagem apresenta um carácter profético, visionário, pois antevê um império futuro, não terreno, e ansiar por ele é perseguir o sonho, a quimera, a febre de além, a sede de Absoluto, a ânsia do impossível, a loucura. D. Sebastião é o mais importante símbolo da obra que, no conjunto dos seus poemas, se alicerça, pois, num sebastianismo messiânico e profético.
Quinto Império: império espiritual
É esta a mensagem de Pessoa a Portugal, nação construtora do Império no passado, cabe construir o Império do futuro, o Quinto Império. E enquanto o Império Português, edificado pelos heróis da Fundação da nacionalidade e dos Descobrimentos é termo, territorial, material, o Quinto Império, anunciado na Mensagem, é um espiritual. “E a nossa grande raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo que os sonhos são feitos. “A Mensagem contém, pois, um apelo futuro”.
3.Simbologia
Água: fonte e origem da vida, purificação, retorno.
Ar: espiritualização, vento, sopro, intermediário entre céu e terra, vida invisível.
Cinzas: morte, penitência, dor.
Dia: nascimento, crescimento, plenitude e declínio da vida.
Espada: estado militar, bravura, poder. Destrói mas restabelece e mantém paz e justiça.
Fogo: purificação, regeneração, iluminação, destruição.
Manhã: luz pura, vida paradisíaca, confiança no próprio, nos outros e na existência.
Mar: dinâmica da vida, nascimento, transformação.
Morte: fim absoluto do que é positivo e/ou vivo, aquilo que desaparece na evolução, acesso a uma vida nova de libertação das forças negativas.
Noite: tristeza, angústia, começo da jornada, tempo de gestação e conspiração, imagem do inconsciente, trevas e fermento do futuro.
Números;
Um: verticalidade, criador, centro cósmico e místico, revelação.
Dois: oposição, conflito, reflexão, equilíbrio, esforço, combate.
Três: ordem intelectual e espiritual, divino, unidade do ser vivo, perfeição.
Quatro: solidez, sensível, terrestre, totalidade, universalidade.
Cinco: união, ordem, harmonia, equilíbrio, perfeição, sentidos, relação céu/terra.
Seis: prova entre bem e mal.
Sete: poder, pacto entre Deus e Homem, plenitude, perfeição, equilíbrio, realização total, ciclo concluído, consciência da vida.
Oito: equilíbrio cósmico, época eterna, justiça, ressurreição e transfiguração.
Nove: medida das gestações, plenitude, coroação de esforços.
Dez: totalidade, criação do universo.
Doze: divisões espácio-temporais, complexidade do universo, ciclo fechado.
Treze: mau prenúncio.
Dezassete: número agoirento.
Pedra: construção, sedentarização do Homem, relação entre terra e céu.
Sonho: incontrolado, escapa à vontade do indivíduo, necessário ao equilíbrio biológico e mental.
Terra: substância universal, matéria-prima, função maternal, regeneração.
Fontes: http://pt.wikipedia.org
Manual de Português 12º. Ano “Interacções” – págs.172, 173, 186, 187, 188, 189, 190 e 191.
segunda-feira, 22 de março de 2010
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