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segunda-feira, 22 de março de 2010

Mensagem de Fernando Pessoa

1- Estrutura da Obra:

O primeiro e único livro em português que Fernando Pessoa publicou em vida foi MENSAGEM  (1934), um “livro de versos nacionalistas”, composto ao longo de cerca de duas décadas, que o poeta estruturou em três partes, correspondentes
a etapas da evolução do Império Português - nascimento (os construtores do Império), realização (o sonho marítimo e a obra das descobertas) e morte (a imagem do Império moribundo, com a fé da ressurreição do espírito lusíada do império
espiritual, moral e civilizacional.).

  • A primeira parte - Brasão - começa pela localização de Portugal na Europa e em relação ao mundo, afirmando o valor simbólico do seu papel na civilização ocidental quando afirma "O rosto com que fita é Portugal!"... Depois define o mito como um nada capaz de gerar os impulsos necessários à construção da realidade (o Sebastianismo é o mito que se manifesta nos momentos de crise nacional).

Passa a apresentar Portugal como um povo heróico e guerreiro, predestinado a construir o império marítimo. Refere mitos e figuras históricas de Portugal (de Viriato até D. Sebastião). Transmite a imagem de um Portugal erguido à custa do esforço abnegado de muitos heróis, que frequentemente não agiram por interesse próprio, mas motivados por forças maiores, quase que predestinados a grandes feitos: o nascimento. Contém, entre outros, os poemas “O dos Castelos”, “Ulisses” (“O mito é o nada que é tudo”), “D. Dinis”, “D. Sebastião, rei de Portugal”.

 
  • A segunda parte - Mar Português - inicia-se com o poema Infante, onde o poeta mostra que o sonho tem como causa primeira a vontade de Deus, o Homem como agente intermediário e a obra como efeito. Nos outros poemas refere personalidades e factos dos Descobrimentos portugueses, encarados na perspectiva da missão que competia a Portugal cumprir. Destaca-se a projecção universal que este empreendimento implicou, bem como  os esforços sobre-humanos, a grandeza de alma, necessários à luta contra os elementos naturais, hostis e desconhecidos: a realização. Contém, entre outros, os poemas “O Infante”, “O Mostrengo”, “Mar Português”, “Prece”.

  •  A terceira parte - Encoberto - evoca um Portugal mais recente, envolto em tristeza, trevas e perda de identidade (a morte) mas crê que nele ainda esteja latente a essência do “ser português”; assim, mostra esperança no “regresso” do rei Encoberto que virá regenerar o País, pois “ é a hora” de : construir o Quinto Império. Contém, entre outros, os poemas “D. Sebastião”, “O Quinto Império”, “António Vieira”, “Nevoeiro”.

2 - As Temáticas


À procura da sua identidade sempre viveu o Fernando Pessoa. Procurou-a nos seus vários eus, os heterónimos, é o seu «drama em gente». Agora essa identidade de novo é procurada e encontrada, pela união com a pátria. Assim ela surge na Mensagem. Uma das preocupações primeiras de Fernando Pessoa dizia respeito à necessidade “sociológica” da criação de uma literatura nacional. Este dar um rosto a um “supra-Portugal” estaria a cargo de um “supra-Camões”. Há em Pessoa três crises simultâneas que coincidem com, e reforçam, a sua crise de personalidade: a da sua integração no espaço cultural (e poético) português; a da poesia portuguesa, presa do subjectivismo romântico; a da identidade nacional, decorrente do Ultimatum inglês (justamente a língua que o formara) e do clima de agitação social subsequente que desembocaria no 5 de Outubro de 1910. Pessoa nunca se serviu da poesia camoniana como poesia intercessora da sua. O “Camões” de que anuncia a próxima superação é apenas o símbolo de que necessitava para a si mesmo se oferecer uma “pátria poética” e com ela um “amor pátrio” correspondente à frustração de quem não tinha ainda, vistos de fora, nem uma nem outro. Este seu ardente desejo de integração vai cristalizar-se na Mensagem – este livro inscreve-se nas tendências do nacionalismo literário da época. Pessoa chama a atenção para a particular “estrutura” do seu livro e para a “disposição nele das matérias”, isto é, para o seu carácter emblemático. Diz ele que a Mensagem mistura um misticismo nacionalista e um sebastianismo racional. Mensagem é um livro de busca redentora, que não se esgota no sebastianismo e muito menos na mera exaltação pátria. É também de interrogação e de crítica do nosso imobilismo fadista e do nosso conformismo saudosista (Triste de quem vive em casa/ Contente com o seu lar,/ Sem que um sonho,...). Interpretação mítica e mística do destino português, Mensagem é também a criação simbólica de uma subtil analogia entre aquele destino mítico e o destino, não menos mítico, de quem se criou na imagem de um “supra-Camões” projectado de uma “supra-pátria” a haver. Pátria que ele concluiria poder ser apenas a língua portuguesa, e a língua portuguesa enquanto linguagem estética. A Mensagem é também a criação mitológica de uma pátria ideal de história e de linguagem, oposta ao país real em que o autor vive. A poesia de Pessoa é a interminável edificação de uma Pátria-Nau de Linguagem que realize as virtualidades de uma personalidade que é vários nomes no nome-viagem chamado Fernando Pessoa. O sentido oculto da Mensagem parece estar nas seguintes palavras do poeta: “E a nossa Raça partirá em busca de uma Índia nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas daquilo de que os sonhos são feitos. E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal ante-arremedo, realizar-se-á divinamente. Mas o segredo da Busca é que não se acha. Aqui Fernando Pessoa assume o que ele considerava o mais alto ministério do homem: ser criador de mitos; e, assim, a Mensagem surge a um tempo como mito e rito que conta a criação duma pátria. Poderá ser vista como uma epopeia, porque parte dum núcleo histórico, mas a sua formulação, sendo simbólica e mítica, do relato histórico, não possuirá a continuidade. Aqui, a acção dos heróis só adquire pleno significado dentro duma referência mitológica. Aqui serão só eleitos, terão só direito à imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos significativos.
            Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a de um mito, numa teoria cíclica, a das Idades, transfigura e repete a história duma pátria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo, dando-lhe uma forma tripartida: Brasão, Mar Português, O Encoberto. Poder-se-á traduzir como: os fundadores ou o nascimento; a realização ou a vida; o fim das energias latentes ou a morte – esta contém já a ressurreição, o novo ciclo que se anuncia, O Quinto Império. Assim, a 3ª parte é toda ela um fim, uma desintegração, mas também toda ela cheia de avisos, de forças latentes prestes a virem à luz. Os Descobrimentos podem ser vistos em diversos planos ou registos da realidade, de significação e Fernando Pessoa foi o primeiro da sua nação a vê-los como uma aventura iniciática. E toda a Mensagem aparece como o erguer poético duma intuição: a consciência duma realização terrestre do transcendente, que será também a do próprio ser pessoal; a missão humana é dever, realização anímica e revelação de Deus. O indivíduo, salvando-se a si mesmo, é o meio pelo qual o eterno se revela no mundo do devir (Deus é o agente./ O herói a si assiste, vário/ E inconsciente.)
            A obra surge assim como o dever, missão terrestre que, estando para além do homem, lhe concede por este caminho a sua verdadeira personalidade. Empossados duma missão que os ultrapassa, surgem sempre esses construtores e heróis da nação (Aqui ao leme sou mais do que eu:/ Sou um Povo que quer o mar que é teu.).

 3 - Simbologia 

Brasão – simboliza a nobreza imutável do passado;
Mar – simboliza a vida e a morte; o nascimento, a transformação e o renscimento;
Campos – simbolo do paraiso ao qual os justos acedem depois da morte; espaço de vida e acção:
Castelo – dada a dua habitual localização num lugar mais elevado, simbloiza a segurança, a protecção e a transcendência;
Quinas – os cincos escudos das armas de portugal reenviam para as cinco chagas de cristo, adquirindo uma dimensão espiritual;
Coroa – simbolo de prefeição e de poder: promessa de imortalidade;
Timbre – insignia que coroa o brasão, indicadora da nobreza de quem o usa, remete para a sagração do herói numa missão transcendente;
Grifo – ave fabulosa com a força e a sabedoria, o poder terrestre e celeste;
Padrão – monumento de pedra que os navegadores portugueses erguiam nas terras que iam descobrindo; simboliza o dominio ea propagação da civilização cristã sobre as mesmas;
Mostrego – simboliza o desconhecido, os medos, os perigos e os obstáculos que os navegadores tiveram de enfrentar e vencer;
Nau – simboliza a força e a seguança numa travessia dificil; bem como o incitamento à viagem e a uma vida espiritual; prende-se, também, com a aquisição de conhecimentos;
Ilha – simbolo do desejo de felicidade terrestre ou eterna; do além maravilhoso; da sabedoria e da paz;
Noite – simboliza a morte; remete para um tempo de gestação que desabrochará como manisfestação de vida;
Manhã – simbolo de pureza; de vida para paradisíaca, de confiança em si, nos outros, na existência;
Nevoeiro – simboliza a indeterminação, indefinição; o prelúdio da aparição. 
Nove: medida das gestações, plenitude, coroação de esforços.
Dez: totalidade, criação do universo.
Doze: divisões espácio-temporais, complexidade do universo, ciclo fechado.
Treze: mau prenúncio.
Dezassete: número agoirento.
Pedra: construção, sedentarização do Homem, relação entre terra e céu.
Sonho: incontrolado, escapa à vontade do indivíduo, necessário ao equilíbrio biológico e mental.
Terra: substância universal, matéria-prima, função maternal, regeneração.
Água: fonte e origem da vida, purificação, retorno.
Ar: espiritualização, vento, sopro, intermediário entre céu e terra, vida invisível.
Cinzas: morte, penitência, dor.
Dia: nascimento, crescimento, plenitude e declínio da vida.
Espada: estado militar, bravura, poder. Destrói mas restabelece e mantém paz e justiça.
Fogo: purificação, regeneração, iluminação, destruição.
Manhã: luz pura, vida paradisíaca, confiança no próprio, nos outros e na existência.
Mar: dinâmica da vida, nascimento, transformação.
Morte: fim absoluto do que é positivo e/ou vivo, aquilo que desaparece na evolução, acesso a uma vida nova de libertação das forças negativas.
Noite: tristeza, angústia, começo da jornada, tempo de gestação e conspiração, imagem do inconsciente, trevas e fermento do futuro.
Números;
Um: verticalidade, criador, centro cósmico e místico, revelação.
Dois: oposição, conflito, reflexão, equilíbrio, esforço, combate.
Três: ordem intelectual e espiritual, divino, unidade do ser vivo, perfeição.
Quatro: solidez, sensível, terrestre, totalidade, universalidade.
Cinco: união, ordem, harmonia, equilíbrio, perfeição, sentidos, relação céu/terra.
Seis: prova entre bem e mal.
Sete: poder, pacto entre Deus e Homem, plenitude, perfeição, equilíbrio, realização total, ciclo concluído, consciência da vida.
Oito: equilíbrio cósmico, época eterna, justiça, ressurreição e transfiguração.

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Fontes: http://pt.wikipedia.org
Manual de Português 12º. Ano “Interacções” –  
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Trab realizado por: Hugo Costa, Nuno Botica, André Loureiro, Cláudio.

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