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terça-feira, 23 de março de 2010

Mensagem de Fernando Pessoa

Uma breve introdução à obra A Mensagem de Fernando Pessoa:

Na obra Mensagem, poema simbólico e mítico de linguagem épico-lírica, o poeta descobre a essência da Pátria, desde a sua formação até à sua actualidade, sua contemporânea.
Segundo Pessoa, Portugal teria um destino divino a cumprir: orientar espiritual e culturalmente as outras nações do mundo, concretizando, assim, o Quinto Império.
Depois das glórias do passado, Fernando Pessoa afirma que Portugal tem uma missão mais ousada, mais nobre, mais sublime: conduzir os povos nas dimensões espiritual (busca de novos valores - Amor, Fé, Patriotismo) e cultural (difusão das múltiplas manifestações da arte-literatura, poesia e outras).
Mensagem foi a única obra publicada durante a vida de Fernando Pessoa (1934).



Temáticas da obra A Mensagem:

Brasão: Trata da formação de Portugal e do seu crescimento e corresponde também ao renascimento, com referência aos mitos e figuras históricas, até D.Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões.
Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos hérois e destinado a grandes feitos.

Mar português: Trata de expansão plena de Portugal, da sua missão e acção no mundo, cujo o acontecimento foram os Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais.

O Encoberto: Aparece a desintegração, havendo, por isso, um presente de sofrimento e de mágoa, pois "falta cumprir-se Portugal". É preciso acontecer a regeneração, que será anunciada por símbolos e avisos.


- A glorificação da Pátria

- Valorização dos heróis nacionais

- O Sebastianismo

- O Quinto Império


Estrutura externa e interna da obra A Mensagem:

Estrutura Externa:

- Mega-poema: 44 poemas

- Poemas: 2, 3, 5 estrofes

- Estrofes: 4, 5, 6, 9 versos

- Métrica: Irregular(versos decassílabos, rebondilha maior e menor)

- Divisão em três partes:

* Brasão: 19 poemas(agrupados em 5 partes)

* Mar Português: 12 poemas

* O Encoberto: 13 poemas(agrupados em 3 partes)


Estrutura Interna:

A primeira parte da Mensagem é constituída por dezanove poemas, organizados em cinco subdivisões, que relacionam temas e personalidades relevantes na formação mítica e histórica de Portugal - reis, príncipes, hérois fundadores de Portugal.
Ao começar esta primeira parte de Brasão, Pessoa soube dar um dos significados etimológicos da palavra" Brasão" - as particularidades e os aspectos únicos que caracterizam um determinado indivíduo, família ou nação. Assim, cada um dos elementos(cores, figuras) representados num Brasão simboliza outras realidades, que poderão ser interpretadas por aqueles que sabem desmontar este código simbólico.
Pessoa, ao estabelecer a relação entre os elementos do brasão português e as personalidades que ele considera em primeiro lugar na nossa história, pretende indiciar certas qualidades do carácter português.
No entanto, as diferenças entre as várias personalidades são ultrapassadas por aquilo que as une, ou seja, pelo que deram de si para que Portugal se cumprisse, quer seguindo o seu natural destino, quer contrariando-o e sacrificando-se pela nação.
O poeta situa os campos do brasão: os castelos e as quinas.
"O dos castelos" é o poema de abertura que situa geograficamente o épico: neste poema, a Europa é perspectivada como uma deusa, da qual Portugal é o rosto.
Este rosto surge mostrando o ocidente, "futuro do passado", ou seja, o rumo seguido pelos descobridores portugueses.
"O das Quinas", o segundo poema, trata do destino do homem que, para se realizar, tem que superar o sofrimento - "Foi com desgraça e com vileza / Que Deus ao Cristo definiu".

A segunda parte da Mensagem, intitulada Mar Português, é constituída por doze poemas que recriam a saga dos Descobrimentos, revelados na epígrafe Possessio Maris(Possíveis Mares), incluindo, uma vez mais, mito e realidade factual. Mar Português contém os heróis que, inspirados e motivados pelos príncipes e reis, foram os protagonistas da expansão ultramarina portuguesa.
A obra das descobertas é essencialmente símbolo de outras descobertas - o império da cultura - pelo que cada um dos elementos é um símbolo.

A terceira parte da mensagem é constituída por treze poemas que traduzem a visão esotérica de Pessoa, aquela que faz a síntese da história, mito e profecia.
A parte histórica situa-se posteriormente ao desastre de Alcácer Quibir(1578) - o primeiro de três factores de decadência de Portugal(1820, implantação de um sistema monárquico descontextualizado da realidade portuguesa, e 1910, implantação da República) e, por isso, esta terceira parte trara do ocultamento gradual de Portugal, pelo que se chama O Encoberto.
Esta terceira parte está toda ela associada à figura do Rei D.Sebastião, ao seu destino e consequente mito.
O poeta inicia esta terceira parte com os símbolos do "Encoberto" : "D.Sebastião", um ideal, porque há uma transmutação da figura histórica em mito - O Sebastianismo; "O Quinto Império", um império indestrutível, porque releva o domínio espiritual; "O Desejado", uma espécie de Messias, à margem de qualquer religião em particular, mas capaz de unificar todas as religiões; "As Ilhas Afortunadas", uma terra sem ter lugar, o mito universal da ilha paradisíaca, a alma de cada português que se identifica com o desejado; "O Encoberto", o último símbolo que exprime o rosa-crucianismo(doutrina que tem por símbolo uma rosa no centro de uma cruz, sendo a cruz os quatro impérios do passado e a rosa o cristo, o Quinto Império) de Pessoa.
Depois, Os Avisos, lançados por três profetas: "Bandarra", António Vieira, um "Terceiro", o próprio poeta, uma síntese dos outros dois profetas do Quinto Império, que, perante a situação dramática e Portugal, interpela o Messias de modo a provocar o seu regresso.
Finalmente, Os Tempos, os cinco ciclos ou momentos desde o ocultamento de D.Sebastião, ou Portugal: a Noite - escuridão inerente ao ocultamento; a Tormenta - a que se segue a calma; a Antemanhã - que ainda não é uma manhã no seu esplendor mas que já a indicia; e Nevoeiro - o último tempo que mostra, simultaneamente, a percepção do estado de decadência de Portugal e e esperança no seu renascer.
Os títulos dos poemas desta última parte remetem todos eles para a natureza espiritual da aventura, da tarefa empreendida pelo poeta - a universalidade do império da cultura portuguesa.
Concluindo, a estrututa triádica de "Mensagem" não se confina a uma preocupação meramente organizacional procurando, sim, espelhar o valor simbólico de uma obra que se quer, desde logo, afirmar como massiânica.


Simbologia:

Água: Fonte e Origem da Vida, Purificação e Retorno.

Ar: Espiritualização,Vento, Sopro, Intermediário entre o Céu e a Terra e Vida Invisivél.

Dia: Nascimento, Crescimento, Plenitude e Declínio da Vida.

Espada: Estado Militar, Bravura, Poder, Destrói mas Restabelece e mantém a Paz e a Justiça.

Fogo: Purificação, Regeneração, Iluminação e Destruição.

Manhã: Luz Pura, Vida Paradisíaca, Confiança no Próprio, nos Outros e na Existência.

Antemamhã: Ainda não é uma manhã no seu espledor, mas que já a indicia.

Noite: Escuridão, Tristeza, Ângustia, Começo da Jornada, Tempo de Gestação e Conspiração, Imagem do Inconsciente, Trevas e Fermento do Futuro.

Mar: Dinâmica da Vida, Nascimento e Transformação.

Morte: Fim absoluto do que é possitivo e / ou vivo, aquilo que desaparece na evolução, acesso a uma vida nova de libertação das forças negativas.

Tormenta: A que segue a calma.

Nevoeiro: O último tempo que mostra, simultaneamente, a percepção do estado de decadência de Portugal e e esperança do seu renascer.

Terra: Substância Universal, Matéria Prima, Função Maternal, Regeneração.

Sonho: Incontrolado, Escapa à vontade do indíviduo, necessário ao equilíbrio biológico e mental.

Pedra: Construção, Sedentarização do Homem, e a Relação entre a Terra e o Céu.

Um: Verticalidade, Criador, Centro Cósmico e Místico, Revelação.

Dois: Oposição, Conflito, Reflexão, Equilíbrio, Esforço e Combate.

Três: Ordem Intelectual e Espiritual, Divino, Unidade do Ser Vivo e Perfeição.

Quatro: Solidez, Sensível, Terrestre, Totalidade e Universalidade.

Cinco: União, Ordem, Harmonia, Equilíbrio, Perfeição, Sentidos, Relação Céu e Terra.

Seis: Prova entre o Bem e o Mal.

Sete: Poder, Pacto entre Deus e o Homem, Plenitude, Perfeição, Equilíbrio, Realização Total, Ciclo Concluído e Consciência da Vida.

Oito: Equilírio Cósmico, Época Eterna, Justiça, Ressurreição e Transfiguração.

Nove: Medida das Gestações, Plenitude, Coroação de Esforços.

Dez: Totalidade, Criação do Universo.

Doze: Divisões Espácio-Temporais, Complexidade do Universo e Ciclo Fechado.

Treze: Mau Prenúncio.

Dezassete: Número Agoirento.


Fontes: http://www.ideiasdeler.pt/
O Essencial de Português 12º Ano Ensino Secundário
Manual de Português 12º Ano Interacções

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